segunda-feira, 28 de junho de 2010

Trecho do Diário das Horas 002


Eu voltei. Precisava voltar.
Estavam todos lá, dedicados a uma festa alegre e cheia de paixões.
Eu estava demasiado pesado para caminhar entre eles.
Tinha o passado sobre mim.
Sobre as minhas veias viciadas.
Sobre o estômago obeso.
Sobre os meus olhos enfermos de pouca luz.
Preferi voltar pra casa e sentar em alguma cadeira perto da janela.
Porque eu deveria vê-los de longe.
Porque eu precisava acreditar que eu já tinha desistido.
Como um animal que dorme faminto em sua jaula vazia.

Leometáfora

Realidades


Dizem daqueles que escrevem seus sonhos, loucos.
Daqueles que executam as guerras, guerreiros.
E daqueles que as planejam, reis.

Leometáfora

Trecho do Diário das Horas 001


Ela convivia com silêncios e esperas como ninguém.
Ficava ali parada olhando tempo, certamente com a mais pura verdade latejando em seu peito.
Como um presságio. Uma revelação.
Eu tinha medo de vê-la assim. Tão sufocantemente linda. A boca seme- aberta como a esperar
um beijo ardente. Os olhos levemente alertas a procura do seu homem.
Um homem que seria dela para sempre.
Um homem que seria muito mais que um simples acaso do destino.

Leometáfora

terça-feira, 22 de junho de 2010

Bom


Ela é mesmo um sonho daqueles em que o poeta só pode sonhar uma vez.
Numa única noite de lua onde as estrelas
fazem festa inutilmente para tentar brilhar mais que o sorriso dela.
Depois no máximo uma pequena lembrança,
se os deuses desavisados e distraídos nos permitirem.
Ela é assim!
Tão distante e inacessível, mas ao mesmo tempo tão poética
que enche meus cadernos de palavras loucas,
que só encontram sentido quando volto a vislumbrá-la.
Ela é mesmo um sonho.
Bom.

Leometáfora

Dizem...



Dizem que quando tudo parar ao seu redor você estará morto.
Dizem também que se você não acreditar com muita força, você não conseguirá nada dessa vida.
E finalmente dizem, que apesar de que a cada segundo presenciamos justamente o contrário,
Tudo se resolverá na hora certa.
Mas eu devo mesmo gostar dessa brincadeira fútil e pretensiosa de ser diferente.

Leometáfora

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eu olharei pra você



Eu olharei pra você independente da cor das Havainas que insistires em usar.
E teu cabelo despenteado acentua ainda mais tua beleza. O fato de seres desatenta é porque teus
doces sonhos se espalham pela casa. E tu nao podes corresponder a aquilo que não te afeta de algum modo.

Leometáfora

A Moça ( Dedicado a Ingrid Fernandes )


A moça não cabe no poema.
O mundo gigantesco, com suas fastiantes novidades, com suas velozes invenções, cabe no poema.
A moça não.
Ela é toda alusão a uma coisa que no próximo segundo será ainda melhor.
O meu dia a dia, a conversa dos meus amigos, a voluptuosa manhã e as suas cores viciantes, cabem no poema.
A moça não.
Porque é tão difícil contê-la?
A moça sorri da minha inútil resolução.
Ela goza da minha inócua poética marginal.
E eu aproveito a sua distração e prendo suas mãos, suas madeixas escuras, sua sombra decidida.
Tenho a certeza que será agora.
O poema se prepara para recebê-la. Seu corpo já consigo construir sobre os traços do verbo. Mas seus sonhos, seus medos, suas dores mais silenciosas, sua alegria acalentada a esperanças, não posso reter.
A moça se esvai toda em poeira. Como uma miragem.
Mas não há poesia sem a moça. Só apenas desconjuntados artifícios de espera.
Drummond já sabia, que quando apaixonado, não é o mundo que é vasto.

Leometáfora

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Meu Jardim


Ando cultivando um jardim. As rosas não são raras. As flores dei-me a colher no mato. Têm um colorido que admiro e estão florescendo. Gastei um bom tempo revolvendo a terra e tirando-lhe as pedras. Ainda não está de todo pronto, mas já se respira algum perfume. Quando comecei, era inverno. Tardei a sentir coragem para o início. Teimei com as chuvas a minha empreitada. A água despencada, desenterrava as sementes, fazia tombar os galhinhos num desconstruir ordenado. E no amanhecer era preciso recomeçar o trabalho, dia após dia, até que o céu desse uma trégua justa. Eu conversava com as flores e elas tinham esperança. Eram carinhosas e compreensivas. Não como eu que não tive a paciência de te tentar amar de novo. Elas esperam a primavera e o passeio das moças nas calçadas. Eu espero o silêncio,
que não tarda a chegar quando me isolo nas lembranças.

Leometáfora

domingo, 13 de junho de 2010

Adeus!


Por todo amor dedicado, e nunca correspondido: Adeus!
Por essa hora tardia, quando não mais te esquecerei: Adeus!
Pelos sonhos desperdiçados construindo o futuro: Adeus!
Pelo medo de perder alguém que nunca tive de fato: Adeus!
Por todas as tempestades que vierem sem teu colo: Adeus!
Por todos os poemas escritos, mas não lidos: Adeus!
Por amares como eu, alguém que te faz sofrer: Adeus!


Leometáfora

sexta-feira, 11 de junho de 2010

É algo mais que admiração


É algo mais que admiração. É sonhar com ela. Sorrir se ela sorri. Sofrer quando o olhar dela se sente perdido. Perdoá-la quando se esquece de notar-me. Desejar que ela esteja sempre perto. Acostumar-se com seu cheiro. Reviver cada lembrança dela antes de dormir. Suportar as saudades, os desencontros, os momentos que ela não me suporta por alguma coisa que nem sei dizer. Controlar o coração quando ela passa. Encontrar milhares de motivos para adorá-la. Milhares de razões para nunca esquecê-la. Sentir-se em pedaços quando ela não vem. Todos os dias. Todos os minutos desde que a conheci. Todas as noites, antes de dormir, como uma oração.

Leometáfora

terça-feira, 8 de junho de 2010

A Falta


Já na hora tardia, vou corrosivo, marchando calado .
Há dias, a dor lacrimosa, pinta obscuro o mofado.
Como outrora, fuji para o mundo, lá fora um jardim incolor.
Aqui, n alma, um travo amargo compondo o final duma flor.

Ah foi um sonho tão bom, o passado.
Mas loucura afinal, qual surgir tão culpado.
No odor colorido dos tantos sorrisos.
Vaga a marca pulsando dos talhos incisos.

Antigo, antigo.
Falta, toda dolorosa, fria.
Antigo, agora antigo.
Coração a costurar nostalgia.

Paro! Um chamado! Ouvi uma voz procurando, roubando a razão num "por fim."
Grito! Foi a mim? Inclino aflito, único suspiro, num minúsculo sim.

Já as bocas pasmarão confundidas.
Lá os camaradas não voltarão a cantar.
Cá as portas abriram aturdidas.
Numa falta quando não mais voltar.

A palavra partiu o significado.
Amor, um ópio tão mal tragado.
Contudo fica um ósculo, tal faltar sujo, incontido.
Contudo fica aqui, findos anos mal vividos.

Leometáfora

PS: Esse poema é um LIPOGRAMA. Não há em parte nenhuma do poema a vogal E.
Exceto no nome do autor, é claro.

•Um lipograma ( do grego lipo, "deixar, retirar") é um texto escrito em que, propositadamente, não entram determinadas letras do alfabeto;
é mais interessante se não se utilizar uma vogal.

A PERDA (Para minha amiga querida Nádia e sua dor)


Deve doer quando uma árvore perde um galho para o machado. Quando uma parte dela foi levada pelo vento em alguma tempestade. A parte que se foi levou histórias boas que se pudesse falar, a árvore contaria. Perder alguém que se ama é como perder um pedaço de nós arrancado pela lógica cruel da vida. Palavras pouco podem nos ajudar, só o tempo lentamente vai sarando a ferida. Mas como numa cesariana sem resguardo a dor continua por longos anos. Até mesmo quando não há mais inflamação aparente ou sinais da ferida. Essa dor lancinante que se chama saudade, chega nos momentos de silêncio, nos aniversários, nas festas em família. Esta em tudo ao redor e nos espreita ao menor sinal de distração. Parece que nunca vai passar. Mas num dia distante passa. Com calma. Aos poucos. Não porque esquecemos os nossos amados, ela passa porque aprendemos a duros modos que é preciso continuar. É preciso seguir adiante e ter fé. E se você acreditar com todas as forças, talvez exista um lugar onde as
todas as partes se unem novamente, como um todo, perfeito e harmônico, e deve ser azul, como céu sem nuvens, azul num equilíbrio onde possamos ser inteiro novamente.

Leometáfora

sábado, 5 de junho de 2010

Versos Brancos

Quando eu rimo na vida é só uma indelicadeza do poema.
Pois não posso ser soneto, quadrado ou perfeito.
Escrevo branco, as minhas desventuras desordenadas.

Leometáfora

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Monólogo com um amigo


Meu caro amigo, os românticos não são os mocinhos. Os mocinhos são aqueles que fazem as mulheres sofrerem. Você já viu alguma mulher chorando por um romântico?

Leometáfora

sábado, 29 de maio de 2010

Maria


E agora, Maria?
Apagastes a luz
Todos foram embora.
Tuas crias dormiram
Faz frio lá fora
E agora Maria?
E agora, mulher?
Tu que tanto sonha,
E que os outros humilham.
És de poucas palavras
Pois ama passiva
E agora Maria?

Está sem seu homem,
Largada a saudade,
Está sem vontade
Só lhe resta beber
Ou quem sabe fumar,
Pra sarar essa mágoa?
Pois já é madrugada
E o dia já vem,
Mas não queres mais.
Com teu riso partido
De teus pesadelos
E tudo foi nada
E tudo era João
Mas João já se foi
E agora Maria?

E agora Maria?
Sua doçura em sentidos
Seu instante de gozo
Sua carne em jejum
Sua lavagem de roupa
Que lê gera uns vinténs.
Seu vestido de chita
Tão incoerente, com a moda,
E agora?

Com a mala na mão
Quer partir amanha
Não existe amanha
Quer morrer ali
Mas com filhos não pode
Quer ir para João
João já não há mais
Maria, e agora?

Se você soubesse
Se você quisesse
Se você pudesse
Ter uma outra história
Se você aprendesse
Ou se afinal cansasse
Ou se afinal dormisse
Mas você não dorme
Você é dura Maria.

E sozinha na vida
Qual cachorro vadio
Sem a mula Dorô
Que morreu de aftosa.
Sem uma certidão
Ou um ombro amigo
Para se aconchegar
Você sonha Maria!
Maria, pra que?


Leometáfora

Quadrilha moderna


João se divorciou de Tereza que era amante de Raimundo que tinha tara por Maria que era casada com Joaquim que era namorado virtual de Lili que era lésbica e pensava que Joaquim era Mara.
João virou alcoólatra, Tereza pegou Raimundo com Maria e depois de um Ménage à trois, continuam juntos, os três, até hoje, Joaquim virou gay e dançarino, Lili amigou-se com Fernanda que ainda não tinha aparecido na história, mas era vizinha de todos e assistia tudo do outro lado da rua.

Leometáfora

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Noites eternas


Há pessoas tão especiais que não cabem em um único sonho. É preciso que as noites sejam eternas para contemplá-las!

Leometáfora

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Não ria


Não ria. Não é engraçado. Um poeta sendo correspondido em seu amor é alguém sem palavras.
Cambaleia atônito sem o contrapeso da tristeza. Ele se tornou livre de sua servidão platônica. O poeta sendo correspondido em seu amor é só pensamentos. No mundo de imagens que carrega nada se transfigura em poesia. Ou melhor, tudo é poesia menos as palavras. A amada não entende o silêncio. Ele não pretende maculá-la com suas tentativas de conter a alegria que transborda. Morrem as explicações possíveis.
Só o amor o carrega inebriado.

Leometáfora

Tu e eu


Ah teu doce chupado em estampido. Teu rastro nas entranhas de meus lençóis.
Teu cheiro corando minha face confessando o gozo. Teu ritmo colorido de suor.
Tua nave navegante em nuvens. Tuas madeixas, tuas deixas. Crias flor onde deitas.
Cria cor teu batom tirado num beijo. Ah tua fala cuidadosa de silêncio. A tua tarde despertando a noite em sonho.
E onde mora o amanhã seguinte, Lá estaremos. Tu e eu. E a tua certeza que não se nega.

Leometáfora

E quando sorris...


Sua sabedoria reside no movimento do teu corpo. E o que é mais influenciador do que o doce dos teus lábios? Não é o teu discernimento que me conduz, e sim os gestos seguros das tuas mãos. Não é o orgulho que possuis que me reprime nas horas de ira, mas sim a tua feminilidade. E quando sorris, prolongam-se os anos que viverei para ti. E se chorares sobre um grão de areia, mesmo que longe dos meus ensinamentos, farei com que as manhãs silenciem
a espera de suspiro e consolo de teu olhar.

Leometáfora

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pequena crônica sobre paixões


Pai eu quero uma boneca!
O que é que é isso meu filho, e isso lá é coisa de menino?!
Ah pai eu quero. Uma boneca que ande que tenha cheirinho gostoso e que fale baixinho ao meu ouvido palavras de amor.
Ah então você não quer uma boneca, você quer uma mulher não é meu filho?
Não pai. Uma boneca dá muito menos trabalho.


Mãe eu quero Um boneco!
Mas filha boneco não é coisa de menina.
Ah mãe, mas eu quero um boneco, desses fortões cheios de charme, com ar de inteligente que quase não fala, mas escuta bastante.
Que seja educado e sensível.
AH minha filha, então você quer um boneco mesmo.

Leometáfora

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Conceito A em excelência social


Você já conquistou seu certificado de CONCEITO A em excelência SOCIAL?

Se sim parabéns, você já pode caminhar com orgulho em nossa sociedade. Ops! Nossa não, corrigindo. Pela sociedade. Já que não consegui nem ao menos um mísero conceito C. Não vou mentir em dizer que desisti sem tentar. Entretanto é muito trabalho braçal, mental e exige sacrifícios inimagináveis. Como muitas vezes não ter escrúpulos, pudores e se entregar a um regime de normas muito rígidas para alcançar uma excelente e magra aparência e uma pesada e gorda conta bancária. Fiz justamente o contrário, confesso. E com isso consegui ser discriminado duas vezes: primeiro pelos sortudos do conceito A, segundo por aqueles que buscam incansavelmente esse patamar tão exuberante. Ah podem me criticar mais uma vez, já que muitas vezes o fazem naturalmente, mas não estou a dizer que querer estar bem consigo mesmo, com saúde e com muito dinheiro no bolso seja algo ruim. Longe de mim essa idiotice. O que sinceramente não entendo é que será que não vêem que está faltando alguma coisa nessa composição tão aparentemente perfeita. Pelo conceito de harmonia de sociedade, o Conceito A em excelência social não deveria ter o pré-requisito de tratar bem as pessoas ao seu redor? De respeitar o direito de individualidade. De não menosprezar aqueles que ao invés de ficar escutando uma zuada repetitiva que só usa vogais, movimentos de abaixar e levantar, ir para frente ou para trás, dar uma reboladinha ou usar apelidos carinhosos para órgãos genitais, prefere ouvir um Caetano, Djavan, um Vander Lee, um Chico, Cesar ou de Holanda. Respeitar a decisão daqueles que preferem o prazer mais tranqüilo de um livro, um teatro ou um concerto a momentos de alegria numa mesa de um bar ou numa Rave tumultuada. Respeitar quando se deixa de pagar por uma roupa de grife pra pagar a mensalidade da faculdade ou de um cursinho só pra tentar crescer um pouquinho na escala dos conceitos. Entender que nem todos nascem livres do peso da pobreza, da pouca beleza externa, livres de escolherem as ferramentas que vão usar para compor seu caminho. Os filósofos dizem que cada um tem a liberdade de construir seu caminho, mas digo que as ferramentas dessa construção você herda quando nasce e se percebe gente no meio de nossa tão “acolhedora” sociedade.
Na minha opinião, O “ninguém é melhor que ninguém” é uma mentira deslavada. Sou preconceituoso com as pessoas de má coração. Se você é uma pessoa boa, prestativa, respeita a individualidade de cada um, ao invés de criticar elogia, ao invés de humilhar exalta o próximo, não condena antes de conhecer a verdade você é muito melhor do que alguém que não faz nada disso. Mesmo que esse alguém tenha uma ótima aparência e seja podre de rico.
Ser bom é que devia estar atual e na moda.


Ps: Veja pelo lado bom, se você já é lindo e rico mas ainda não começou a tratar o próximo com respeito e carinho, falta tão pouquinho. Comece! E eu que sou feio e pobre e ainda estou aprendendo a lidar com o próximo? Aff! Que trabalhão. Nem sei por onde começar.


Leometáfora

terça-feira, 11 de maio de 2010

CLARINHA

No paço transparente onde os sonhos moram.
Na noite suspensa em que os poetas choram.
Nesses dias relampejantes de umidade e calor.
Tardava errante e fraco, o peito a suplicar amor.

Foi ver-te Clara, vertigem anunciada.
Coberta em estrelas, na noite enluarada.
Trouxeram os anjos afinal trouxeram!
Gritei ao vento os sons que me vieram.

Gritaria paixão se olhos meus mirassem.
Louvaria teus lábios se lábios meus falassem.
Mas tudo mudo e cego de um amor que afronta,
em sabedorias tolas que o sofrer desponta.

Num silêncio torpe, prefiro o anonimato,
à perder-te, Clara, a declarar-me em ato.
Prefiro as estrelas, te dirão que sinto.
Prefiro a saudade a condenar-me extinto.

Leometáfora

sábado, 8 de maio de 2010

Sim, são versos de amor.


Sim, são versos de amor. Admito, não sem remorso. São versos de amor, de uma tolice corriqueira e repetitiva. Uma tolice culpada e tantas vezes feroz. São desejos inúteis de alimentar algo de meu em teu seio. Podes rir da minha completa incapacidade de não te esquecer. De trazer nos meus versos esse inquilino corrosivo e exigente que se tornou o amor. De quando sentir sede, lembrar dos teus beijos. De quando respirar, lembrar do teu cheiro. Não sei de outro modo.
É assim que eu me dispo.
Contradizendo a razão que me pede pra eu desistir de tudo.

Leometáfora

POEMA LOUCO

Ah deixa eu te dizer, vou fazer um poema bem louco.
Que rime tarde com perca, tristeza com farça, amor com tão pouco.

Leometáfora

PALAVRAS. PALAVRAS. PALAVRAS.

Palavras, palavras, palavras. Tem gente que as usa para parecer melhor que os outros. Eu as uso para falar de amor!

Leometáfora

terça-feira, 4 de maio de 2010

Vazio


Hoje mora comigo a solidão nessa nova casa. Sem móveis, mas cheias de silêncios quando os gatos não namoram no telhado. Hora faz calor, hora minha carne se enrijece do frio de alguma madrugada. Nem sempre. Tenho sonhos azuis. Com céus e uma moça que amei há muito tempo. Às vezes tenho a sensação que a casa reverbera a minha tristeza. Põe os dedos sujos nas cordas da minha alma e faz da dor melodia e bossa. Nem sempre. Gosto do verde do pequeno jardim descuidado. Não sei quando os vizinhos vão limpá-lo, e eu até poderia se quisesse. Não quero. Meus olhos fundos pelas noites que me falta sono. Meus ossos rígidos por dormir no chão. Minha carne marcada pelo peso da minha renúncia de vida. Tudo é absoluto no único instante que desejo viver. Porém são poucos. Existem três exercícios diários que decidi não abrir mão: Ler um parágrafo, escrever um parágrafo, conhecer alguém. Não, não estou procurando arranjar um casinho.
Apenas gosto de aprender com os semelhantes, as diferenças.


Leometáfora

sexta-feira, 30 de abril de 2010

À SUA ESPERA (Para Ju)


Porque você não me esperou?-- Você me pergunta com seu o peito aflito. --Porque viveu tanta coisa antes de mim?-- E eu te olho assustado. Temos muitos anos na diferença de idade. A verdade é que quando cheguei a terra te procurei. Te procurei no rosto da enfermeira que me embalava. Nas imagens no vidro do berçário que cintilavam de um lado para o outro enquanto eu conhecia as primeiras formas. Quando menino te procurei no seio de minha mãe. Nos carrinhos coloridos. Naquela vez no parque, que me perdi encantado com a moreninha que sorria no carrossel. Te procurei nos perfumes das rosas. No primeiro beijo que descobri mais tarde que faltava alguma coisa essencial: O seu amor. Depois foram algumas namoradas, Muitos sonhos. A tentativa de uma vida. --E onde estava você?-- Meu coração gritava em saudade. Pensei que talvez aquilo que me faltava, na verdade devia ser uma ilusão. Comecei a ver na minha insatisfação, algo como uma deficiência de caráter. E pedia a Deus perdão por não me conformar com alguma paixão morna e cotidiana. Meu corpo sentia um frio desconfortável. Minha alma ansiava por alguém que a compreendesse. O mundo foi se tornando um lugar inóspito para mim. Meu olhar já não distinguia os caminhos. Trocava constantemente nomes de ruas e lugares. Não me concentrava em nada por mais de 2 minutos e só. Talvez meu corpo precisasse de algum calor. Porém meu coração fazia com que eu me sentisse um traidor. Por isso o desejo de me aniquilar me visitava numa pontualidade cruel, junto com, o anoitecer. Por sorte só você vai saber disso. Ou talvez o mundo deva conhecer o que faz um homem quando não encontrou o verdadeiro amor. Muitos rirão de mim em suas vidinhas vazias, onde um bar e algumas noitadas de luxúria, facilmente os satisfazem. Não pretendo me destacar da prole que caminha para o abismo. Pois é isso que a humanidade esta fazendo. Contudo posso escolher sentir o perfume de uma rosa. Deitar na relva, acolhido nos seus braços. Beber o sabor adocicado de tua boca, enquanto esperamos que o tempo nos carregue, em sua mecânica voadora. Então é isso que pretendo que entendas de uma vez. Sim eu te esperava.
Mais que tudo que um dia possa ter sonhado para conformar o peito.
E hoje que nos afogamos perdidos um no outro,
dentro de um amor que é nosso imperador, você faz cicatrizar
os cortes infligidos pela saudade. Pelo distanciamento que projetei num mundo que me negava o direito de te esperar.
Que me aplaudia quando embriagado pelo desespero cometia mais um erro e mais outros
numa sucessão descarrilada de desenganos. Agora que sei que podes entender a minha fraqueza, me sinto, mas leve.
E nem importa mais as fendas da dor que nos espreitam. Elas sempre estarão ali, invejosa dos verdadeiros amantes.
Hoje, mais velho, é você que me carrega de sua juventude. Que recolhe os meus surrados sapatos e me espera calçá-los.
Estás radiante nesse vestido que repete a cor de teus olhos. Pronta para me ensinar a viver.

Leometáfora

Deixa que eu acredite


Deixa que eu acredite. Que você virá no amanha que desperta. Que toda a sua doçura inundará a minha vida de alegria e paz. Que teu cheiro marcará suavemente minha pele numa composição de suor e vida. Deixa que eu acredite que as horas passam correndo, mas ao teu lado tudo é harmonioso. Nada traceja, subtona ou desafina. Não há dissonâncias cruéis ou acordes falhos. O movimento de nossos corpos no amor é
a orquestra que antecede o paraíso.

Leometáfora

Para alguem nada romântico!

Que entendes tu sobre poesia? Como querer que tu a dês o valor apropriado? Palavras não brilham e nunca fostes cego. Como esperar comoção ante o pobre limite de meu poema? Junto as idéias com algum cuidado. Floreio alguma dureza para deixá-la suave. Já não sou eu mesmo desde que comecei.
Sou o outro, que o lirismo corrompe.

Leometáfora

Caos















Implodindo é a palavra. O que ocorre aqui dentro. O visitante inesperado e incômodo é o caos. O sonho que se petrifica sempre num momento de perda. Uma boca insalubre de saudade. Os erros e seus tortos pedestais. Este sou eu, um pouco resumido ainda, num conjunto mal acabado. O vidro onde guardava minhas horas se partiu. Sabe-se lá por onde andam as horas! E no fim é sempre o beijo que não roubei que me corroi. É a falta mórbida de vida.
Porque é preciso amar para conhecer cores e sabores? Pra inalar algo além de vento e pó? Pra subsistir ao menos? E vem você e não acredita no amor. Então convence meu coração que bombear apenas sangue é suficiente para não deixar a alma morrer.

Leometáfora

Previsível












Quem te ensinou a colher espinhos? A catar no futuro sombras e tempestades? Que o maduro é podre se curtido no sereno? Que o não chorar é ser feliz? Quem aliviou você do peso da saudade, concretizando as diferenças entre nós? Quem marcou o dia de teu amor? A hora de teu prazer? O segundo do teu gozo? Quem limitou você de silêncio? Quem saqueou você de você e te fez outra, morta, despida de carne e esperança,
quase sem coração?

Leometáfora

Me dizes assim


Me dizes assim: “Me deixes livre! Não me acompanhe a todo instante! Não me sufoque com a tua sombra enternecida de minha imagem! Não me lembres a toda hora o rebento de amor que nasce em teu peito! Não me adules, como se nada mais te restasse além de meu sorriso!” Me dizes assim. Cheia de convicções e desejos. Meu olhar se comprime num ponto distante que pintar minha mente. Paro. No freio de meus pés rasgo o tecido rancoroso do asfalto. Um grande boneco sem sentido. João bobo tomado pelo vento das palavras. Então desequilibro, contudo não caio. Não caio porque há em todo demasiado amor, uma teimosia quase que infantil. Por favor, não me lembres de meus carinhos lacrando as paredes pra que na minha ausência um novo ar não te alcançasse. Para que a tua renúncia do mundo se equivalesse a minha em essência e quantidade.
Ah que vergonha de meu sentimento! De tê-los todos assim transbordantes! De nunca detê-los, na ânsia por te amar!

Leometáfora

sábado, 24 de abril de 2010

O melhor de mim


O melhor de mim é só um punhado de palavras que componho tristemente para te exaltar. Triste porque resultará inútil do intuito de te trazer pra mim.
O melhor de mim é um verbo mal conjugado numa frase descabida onde a vírgula se negou a pausar.
É um auto-retrato em que não reconheces nada teu.
É gosto tão efêmero que não te resta tempo para distinguir se é doce ou amarga a minha insensatez.
O melhor de mim é quando não me amas, é quando me desprezas e eu preciso de um poema para não deixar de existir.

Leometáfora

Pedaços


Pedaços de mim componhem essa saudade que deixas quando voas pela noite.
Apenas pedaços, pois só volto a ser inteiro quando reapareces.

Leometáfora

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Romântico ou Idiota?














O ROMÂNTICO E O IDIOTA

“Romantismo sim, grude não.” Ou então, “ Eu odeio o romantismo em excesso”. Com essas frases tiradas de comunidades do Orkut, resolvi começar esse texto sobre uma das coisas que mais me incomodam em relação à percepção que algumas pessoas têm do romantismo.
De repente você se encontra namorando um cara totalmente solícito que te manda flores várias vezes no mês, que te escreve cartinhas de amor quase que diariamente, que responde a seus pedidos sempre com um inflado e sonoro sim, pois esse cara nunca questiona, nunca toma iniciativa. E então, você julgaria esse homem, um romântico ou um idiota?
Até entendo que algumas mulheres que tenha conhecido homens assim que vão além de todos os seus princípios para agradar uma mulher, tenham ficado traumatizadas com isso. O verdadeiro romântico tem a sensibilidade de saber quando esta agradando com suas investidas ou não. Aquele que continua investindo numa mulher sem perceber que a sua carência, não romantismo, a está desagradando só pode ser um idiota. O romântico, não é um idiota insensível e egoísta que acredita que suas decoradas frases de efeito e suas flores farão as mulheres se derramarem aos seus pés. O romântico não é só doação. Ele precisa de correspondência, de cuidado como ele gosta de cuidar. Se isso deixa de existir no relacionamento, o romântico é homem suficiente para sair de cena e ir procurar alguém que verdadeiramente o mereça. Deixando assim a porta aberta aos idiotas, trogloditas e cafajestes que facilmente povoam as esquinas. A mulher que não sabe valorizar um homem romântico, com certeza o perderá. Ele não é o idiota que ficaria ali como um cachorrinho esperando algum afago do seu dono. O homem romântico sabe como ninguém valorizar o amor de uma mulher,
mas antes de tudo, ele sabe o valor que tem o seu amor.

Leometáfora

quarta-feira, 21 de abril de 2010

As flores em ti. ( Para minha Amiga Léa Lima )


Já tarde da noite perdido em lembranças.
Repleto de medo ao tardar esperanças.
Me assaltam desejos atrozes bandidos
Refúgio de gelo aos meus olhos sofridos.

Cruéis são os sonhos voláteis, nervosos.
Tua boca brilhante de lábios cheirosos.
Me tremem nas mãos, o sentido, o vazio.
Acendem a falta em seu curto pavio.

Porque passam lentas as horas, meu dia?
Se espero em tua imagem, na noite, alegria.
Se o corpo lateja em sua febre medonha.
Se é amor que renasce na face tristonha.

Já ouviu meus relâmpagos, raios, trovões?
São nuvens que choram nas minhas canções.
Declaro em silêncio no curto protesto.
Em palavras miúdas de sombras sem gesto.
Que ando perdido pensando em teu beijo.
Pois há mais de flores em ti do que eu vejo.

Leometáfora

A verdade nua e crua? ( Crônica de um desabafo )


Senti vontade de te falar sobre isso.
O que alguns de nós aprendemos desde cedo é que as coisas acontecem quando têm que acontecerem.E por falta de esclarecimento ou até mesmo comodidade, decidimos deixar a cabo do destino a nossa estadia na terra. Não em tudo na vida, é claro. Na verdade somos muito mais objetivos e empenhados com relação ao trabalho e crescimento intelectual do que em relação aos nossos relacionamentos amorosos.
Tratamos o amor como um esforço do cupido para nos tirar da solidão. Mas o cupido é um ser preguiçoso ou acéfalo e nos empurra para uma cilada atrás da outra! Hoje pela manhã, aproveitando o feriado do dia 21, assisti ao filme A VERDADE NUA E CRUA e cruelmente tive que rir admitindo que além de divertido o nome faz jus literalmente ao seu conteúdo. Uma produtora inteligente, bonita, autoritária e solitária, se vê obrigada a trabalhar com um apresentador de um programa de baixo conteúdo mas que vem alavancando os níveis de audiência nas emissoras por onde passa. A incompatibilidade entre os dois é evidente. O apresentador é explicitamente tudo que a produtora abomina em um homem. Cafajeste, mulherengo, mal educado, pornográfico e totalmente contra qualquer demonstração de romantismo. Em determinado momento ele ainda diz que o amor não é importante e que se deve buscar a luxúria para alcançar a felicidade.
Tosco? Assustador? Engraçado? Pode ser!
Infelizmente é a verdade nua e crua para a maioria. A verdade que poucos têm a coragem ou a sinceridade para admitirem.
Apesar de todas as diferenças entre os dois cria-se um laço de amizade onde o apresentador, fazendo uso de suas teorias começa ajudar a produtora a conquistar o homem dos seus sonhos. Um médico bonito, rico, romântico e educado. Porém para isso a moça precisa se transformar numa espécie de boneca idiota que é incapaz de ter opinião e se sujeitar a vontade do medico. E é evidente que depois da farsa ela o conquista.
Já em outro momento, quando o apresentador, desmentindo tudo o que julgava certo a respeito de sua MULHER-BONECA-IDEAL, se apaixona pela bela produtora com suas qualidades e defeitos reais, ele justifica indiretamente porque se tornou um tipo O-AMOR-QUE-SE-DANE, ao questionar a moça por seu comportamento obsessivo em encontrar um homem que seja exatamente o perfil que ela imagina em sua cabeça. Um homem imaculado, fabricado por sua imaginação e critérios muito exigentes. O apresentador ainda acrescenta, que ela, como todas as outras, prefere o dinheiro ao caráter, a beleza ao invés da alma, cavalheirismo ao invés de princípios e na verdade a luxuria ao invés do romantismo. Só que neste momento ela já tinha mudado todo o seu conceito sobre o homem ideal e começando a admirar o lado humano daquele tosco apresentador que desistiu de uma proposta tentadora de sair de uma emissora local para uma emissora nacional, só para não ficar longe do seu sobrinho que não tinha uma figura paterna em casa.
Como era de se esperar o resultado final é delicado e ao mesmo tempo engraçado. E deixa aberta uma questão muito coerente sobre como anda a nossa realidade amorosa. O que buscamos? Será que estamos usando receitas prontas para procurar um amor como se procura um medicamento? Será que alguém que não tenha todas as qualidades impostas pela mídia e ou sociedade não seria capaz de nos fazer felizes?
Depois do filme, li uma notícia que fala como repercutiu a história na opinião das mulheres e homens. A crítica falava sobre como mudou o conceito de galã do cinema no dias de hoje. Um galã romântico dos filmes de antigamente, certamente seria um solitário. Os novos galãs que surgem no cinema moderno deixam o romantismo, as divertidas etapas das conquistas para trás e apenas explicitam que querem fazer sexo e pronto. Sexo sem compromisso. Atrevidos e desrespeitosos, se bem que nem sei mais o tipo de respeito que as mulheres hoje desejam. Esses homens chegam como animais demarcando seu território, figurando personalidades previamente planejadas com os milhares de livros que circulam na internet. Livros tipo: " CONQUISTAR QUALQUER MULHER É FÁCIL, NEUROLINGUISTICA DA SEDUÇAO, A BIBLIA DA SEDUÇAO, O PODER DAS PALAVRAS NAS HISTÓRIAS IVENTADAS PARA CONQUISTAR " como se as mulheres fossem seres neuróticos e facilmente manipuláveis. E aí eu me pergunto:
Como fica o romantismo? A sinceridade? Os desejos puros de cuidar do outro e respeitá-lo? Será que terei que deixar de ser um “tolo” poeta romântico para seguir o que dizem os livros? Será?
Tenho que confessar que isso me dá muito medo.
Medo porque as coisas mudaram, o mundo evoluiu em relação a tudo, pena que nem tudo para melhor. Traições, perversões, desrespeito para com o próximo, relacionamentos falidos e tantas outras coisas doentias quem nem vale enumerá-las.
É ESTÁ CERTO, a pergunta que deve estar soando aos ouvidos de algumas pessoas que estão a ler esse desabafo: SERÁ QUE ELE LEU ALGUM DESSES LIVROS? Sim. Já li. Já usei alguns conceitos e infelizmente deram certos. Muito certo. Isso devia ser bom, mas não é. Eu deixava de ser eu mesmo para conquistar alguém. Eu deixava de fora meu romantismo, minha sinceridade meu amor próprio para protagonizar um cara que eu não sabia quem era. Os resultados na conquista eram positivos? Sim. O que era negativo eram minha consciência e a raiva que se instalava depois da conquista por aquelas que se deixavam manipularem por conceitos aprendidos nesses livros. Fiquei deprimido. Tive crises existenciais terríveis. Dores de consciência por estar enganando alguém que certamente estava adorando ser enganada. Graças a Deus não faço mais isso.
É o caminho mais fácil para vencer a solidão, mas o preço é muito alto. Se vender ao mundo frio e desumano é uma carga pesada demais para se carregar.
Serei romântico até que quando me seja permitido, escrevendo a noite no silêncio do quarto vazio, chorando lágrimas quentes e saudosas, varrendo a solidão com meus poemas de amor. Porque neles, o amor que exalto é verdadeiro, não tem artimanhas
e pode fazer muito feliz a quem um dia virei a amar.

Leometáfora

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Poemas da Série E ...


E hoje amanheci com a sensação de não te merecer. Não fazer parte de teu diário das horas. Não contar presença em teu sofá da sala. Acordei e decidi que quero não ser notado quando me esgueirar pelas paredes temendo as sombras de nossos momentos românticos. Quando por descuido meu, perceberes meu declínio, reza por dois dias seguidos, e depois esqueça. É o pago por inflar teu ego em minhas palavras de amor. Mas não se sinta culpada. O desvio já estava lá quando você me acompanhou na estrada. Então porque me engano? Não floreio as tuas esquivas e adubo a esperança? É que só tenho trato com a dor. De uma maneira homicida, eu espero que ela venha. A dor em seu cavalo baio de armadura. Em sua nau nebulosa e flutuante.

Leometáfora

Esquecer, palavra de oito letras


Esquecer. Palavra de oito letras que uma hora a gente quer, e na outra a gente odeia quem faz uso dela. É algo que você controlaria se não tivesse os cinco sentidos. Se não tivesse que dormir toda noite numa cama enorme, que você da voltas nela, deita enviesada, de braços e pernas abertas e não da conta de ocupá-la. Se não tivesse um monte de canções que você dançaria com aquela moça com prazer. Se não sobrassem os motivos que você daria pra não sair de casa só pra ficar juntinho do calor dela. Esquecer seria fácil se ela não fosse doce, não fosse meiga, não andasse nua pela casa, não tivesse um gosto de maçã na boca, nem uma cor de canela na pele. Ai você junta essa palavra de oito letras, com um que de SAUDADE que tem sete letras. E contrariando a história toda, você lembra-se do DESEJO, e lá vai uma palavra de seis letras que te queima a carne. E deve ter o número seis, por que é o tempo em minutos que você agüenta sem molhar o corpo para esfriar de novo. FALTA, tem cinco letras, e é ela que pela primeira vez faz você desejar funcionar a palavra de oito. Já AMOR, deve ser uma brincadeira de quatro letras porque te faz correr feito menino em tudo que faz só pra chegar logo em casa e passear sobre curvas e covinhas que sua amada guarda em segredo só para te mimar. Mas quando o amor acaba fica a sensação de um bilhete premiado que ao saber que seus números foram sorteados você descobre que também o perdeu a folhinha do jogo. Ou um arranhão no joelho antes de voltar para casa depois da festa. E isso só pode ser brincadeira. Ai você lembra que a palavra de seis não dura pra sempre. Sente a de cinco e a de sete que a de quatro deposita em seu peito.
E então pretende a de oito.

Leometáfora

sábado, 17 de abril de 2010

Os poetas estão morrendo



Os poetas estão morrendo. Em quartos escuros e úmidos. Nos bancos da praça silenciosa. Em retiros. Em casebres. Em bibliotecas cada vez mais escassas. Estão morrendo enquanto caminham no asfalto respirando a fumaça. Enquanto bebem algum vinho agridoce. Enquanto suspiram. Já fazem parte da paisagem melancólica dos lugares esquecidos. Alguns até alcançaram a modernidade, o email, o Orkut. Fizeram blog. Divulgaram na net. Mas logo ficou claro que poesia virou uma alegoria fantasma figurando em páginas que ninguém lê. Lembro de um poeta, amigo meu, que rasgou duzentas e cinqüenta e seis poesias de sua autoria, antes de definitivamente parar de escrever, e questionado por isso, respondeu que a única pessoa que gostaria de lê-los ja havia o feito. Disse isso apontando pra si mesmo com uma profunda resignação. Por isso eu repito que os poetas estão morrendo. Repare bem, digo que são os poetas, não a poesia. A poesia continua nas curvas da moça que passa, no seu perfume de flores, no seu sorriso cantante, nos carros acordando a avenida, nos prédios, nas sombras, nas cores e suas combinações, na vida que surge, na pergunta do filho, na lua, no mar revolto ou sereno. Há poesia em tudo para olhos sensíveis e treinados. Só o poeta esta fúnebre. Grita inaudível de sua cova de fracassos. O que aconteceu? Pode perguntar alguém que acaba de chegar e não viu toda a transformação dos sonhos, esperanças e amores do novo milênio. Aconteceu que o amor se transformou hoje em uma sensação associada a um artigo que compramos, ou uma explicação para as nossas escolhas infelizes. (É porque eu o amava! Diz ela!)
Depois veio a desvalorização do saber cultural. Do saber intelectual. A valorização da conveniência econômica em detrimento à relações verdadeiras. O dilaceramento do romantismo antes que o poeta pudesse resgatá-lo em sua missão suicida entre as laminas afiadas da indiferença. Eu achava que o poeta era a ponte. O apaziguador. Que com a sua transformação da poesia traria o gosto pelo aprender por prazer. Sem o estigma do conhecimento = dinheiro. Hoje sei que embalsamamos e lacramos sem vida, a beleza literária. Uma das mais belas expressão de arte, que é a poesia, perde o seu operário, o seu construtor. Se tornou viúva. Os poetas estão partindo e o que germinará de seus restos mortais chamarei de veneno, e será parte da enfermidade do esquecimento.

Leometáfora

terça-feira, 13 de abril de 2010

Poemas da série E...


E ela uma vez me disse: Você pode ser o que quiser, menos o meu amor.




Leometáfora

Poemas da série E ...


E ele no auge do seu egoísmo descobriu não a roda que levou o mundo adiante e sim a ignorância que
a fez girar para trás.

Leometáfora

sábado, 10 de abril de 2010

De novo sobre o amor


Tudo seria mais fácil se esse amor que a gente inventou não tivesse tantas condições. Não precisasse ter aparência, dinheiro, tempo, popularidade. Esse engarrafamento do amor não mostrou muito sucesso. E essa propaganda que gratuitamente aceitamos como realidade não nos alimenta de muitas esperanças. E aí a gente sofre. Fantasia paixões em cada esquina, em cada rosto, no menor gesto de atenção de quem passe a nos rodear. Hoje eu sei que o amor é uma espécie de trabalho árduo e perpétuo. Só aqueles que não enxergam isso ficam se agarrando a ilusões passageiras. O amor é luta de espadas coruscantes. O amor é conhecer o outro a cada dia. Procurar se alegrar com o que outro tem a oferecer e não esperar do outro o impossível, o inimaginável que nem nós mesmos seríamos capazes de dar. Os orientais dizem que desejar pouco é o segredo de ser feliz. Porque se desejamos muito, fatalmente em alguns momentos vamos nos decepcionar. Por isso com você eu desejaria tão pouco. Só os teus beijos. Só os teus abraços.

Leometáfora

MAU EXEMPLO


O pior pecado que o homem moderno não pode cometer sem que se perca a fé em suas ambições, é o amor. Essa vontade louca de não mais existir sem que haja a aprovação do outro. Esse outro cheio de anseios e fantasias, de uma composição de paixões, excentricidades e enigmas. O homem moderno tem pouco tempo para essas futilidades. Ele tem suas contas a pagar. Seus investimentos de prazos variados. Suas aspirações tão materiais que não cabem numa cobertura de 300 metros quadrados à beira mar. O amor, para o homem moderno, seria uma fuga da realidade. Um contra censo descabido. Uma renúncia a tudo que a vida tem de prático, palpável, manipulável. Mesmo assim o homem moderno pode dizer que ama. Afinal toda peça exige um pouco de sacrifício de seus atores. O que ele não pode é sentir.
Essa é uma condição irrevogável para sua segurança.

Leometáfora

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Essa tal história de amor


Eu posso contar uma história de amor de muitas maneiras. Começar de uma forma casual e ir entrelaçando os detalhes na medida que os diálogos forem surgindo. Posso colorir com alguma segurança, um momento ou dois que foram mais marcantes. Pôr uma dose tristeza, uma entrada inesperada de coincidências, um não sei que de fantasias, tudo para que ao final o enredo tenha um toque suave e lírico. Eu posso contar essa história de amor,
mas terminantemente hoje eu prefiro vivê-la.

Leometáfora

domingo, 28 de março de 2010

Na sala de aula


Chamava-se Laís. Não lembro mais seu segundo nome, telefone, número de identidade ou todo o resto que achei prudente guardar. Mas se chamava Laís e era isso o que fazia meu corpo estremecer. Tinha na pele uma tez suave e em cada olhinho duas pequeninas interrogações, dessas tipo Raio X. Na primeira vez olhou-me de relance, numa atitude suspeita de quem esconde o perigo. Depois mais firmemente, e sorriu. Sorriu da minha surpresa em vê-la como se de alguma forma, em tempos imemoriais, a tivesse conhecido. Sorriu do meu constrangimento de ser pego em flagrante desejando-a. Então perguntei-lhe, para disfarçar, sobre aula, sobre o tempo ou algo similar.
Me respondeu: “ É assim mesmo! “
“ O que é assim mesmo? “ Pensei me indagando. “ A aula? O tempo? Ou a paixão fulminante que me possuiu ali sem avisos ou preliminares, me afogando, me viciando daquele perfume que fluía desavisadamente do corpo dela?”
Depois percebi. Era a aula a que se referia. Comum como todas as aulas. As mesmas pontuações e cronogramas. O quadro negro cheios de exercícios. O mesmo enfado intelectual daqueles que não estão apaixonados.Contudo o agradável, o emocionante, era estar ali ao lado dela. Separados por uma ou duas cadeiras, mas perto o suficiente para seu coração e o meu tocarem compassados, porém irregularmente distintos, peças inéditas de um autor vagamente conhecido. O seu executando uma valsa em sua função vital. Já o meu um Jazz fortíssimo que produzia no meu rosto, suor e em minhas mãos um encharco trêmulo que balançava a banca logo à frente. Quarenta e cinco minutos, atravessando um deserto de sal e silêncio, perguntei o seu nome no ultimo segundo:
“ Laís!” Ela disse, mais uma vez sorrindo.
Foi como se dissesse: “Sim isso é um fato, você está me amando e não há como mudar isso!”
Abaixei meus olhos em fuga, belisquei a ponta do polegar tranqüilizando-me pela aula que havia acabado, de poder ir embora, de ser noite e ir para casa imaginando aquela boca encarnada se movendo dançarinamente os seus lábios macios. Porque amanhã eu a veria de novo. E depois e depois e depois... Amando-a, na sala de aula, na distância feliz e acomodada de uma ou duas cadeiras.


Leometáfora

Antes de você eu não existia!


Talvez eu não existisse. Ou era apenas um Fado que o cantor triste sorveu com a dor. Ou uma folha envelhecida e seca que flutuava seus segundos no ar antes de adubar a terra. Talvez, antes de você aparecer, eu estivesse dormindo nas minhas angústias. Envolto em vazio e escuridão. Mas ao avistar tua luz tudo mudou. Pois,talvez agora eu possa existir deveras para docemente te adorar.

Leometáfora

sexta-feira, 26 de março de 2010

Palavras rancorosas


As palavras sempre tiveram muita força em minha vida. Foram edificantes ou destruidoras.
Mas nunca mornas ou enssosas. Ah, confesso, já as usei para alguns dos desejos mais primitivos e egoistas.
Ja as arranquei muito novas do limbo. Ate abusei da inocencia de algumas delas. Ah, as palavras!
Ficavam imoveis enquanto eu as violentava, grintando ao mundo minhas dores e disilusoes,
e no final jaziam desonrradas no papel. Certamente por isso hoje me fitam rancorosas e dispostas a nunca mais colaborar.

Leometáfora

Meu melhor poema ainda não escrevi


Meu melhor poema ainda nao construi. Nao tive tempo de senti-lo cortando as minhas verdades.
Ele espera coberto das cinzas do meu dia, em algum lugar. E os que vierem depois dele,
nada contarão de eternidade e gentileza. Serao poesia descabida e sem forma.

Leometáfora

quarta-feira, 24 de março de 2010

Transformações


Solto a pele envelhicida. Troco-a como reptil rastejando em pedra. Ah, que ferida é essa que transforma?
Serei outro daqui a pouco, na peleja do passado com o futuro, corre o tempo que apaga as nossas pegadas.
Por onde voltarei? Nao existe manual para essa nova vida? E vou me sentindo o mesmo, porém outro.
Repitindo as mesmas coisas, que hoje me são tão novas.

Leometáfora

sábado, 20 de março de 2010

Ainda posso me reconstruir


O fato de que eu esteja morrendo diz muito pouco sobre mim. Eu não sou as noites mal dormidas. Não sou a sucessão de erros. Nem de longe, esse imenso medo de rejeição. Não sou o resultado do seu silencio. Do seu desafeto. Do seu desamor. Sou muito mais que essa insensatez que insiste em acreditar em tudo. Mas não me penses que já me conhece. Mesmo à beira do fim, nesse solitário segundo que me antecede,
ainda posso me reconstruir.

Leometáfora

quinta-feira, 18 de março de 2010

Vou deixar de te amar


Vou deixar de te amar.
Pois tudo se corroi, até os meus ânimos.
As lembranças compulsivas de tua carne,
os passeios entre a fome do hoje e a saudade do amanha no cofrinho de permissões e agrados, serão nulos. Retrato descolorido do passado.
Por tudo isso vou deixar de te amar.
Que fique claro para ti e para mim
o quanto renunciei a essa miragem.
Minhas palpitações derivadas do teu sorriso,
o desânimo que se instala quando não me percebes, a tristeza noturna dos lençóis vazios, serão nulos. Fumaça em ventania.
E no futuro, se o destino dividir para nós a mesma calçada. Seremos paisagem comum, figurando solitários, na fotografia de uma rua.

Leometáfora

sábado, 13 de março de 2010

Prefiro a escravidão da esperança.


Desejo alcançar seus pensamentos. Contê-los. Decifrá-los. Sugar da poesia de seu sorriso, a contenda de amor que ainda me cabe. Mas não sei se me cabe, pois meus polidos limites jazem sobre a terra seca. Já nem sei me doar como antes. - Que seja ela! Diz meu coração se repetindo em sua aflição. E eu digo: Não sonhe! Hoje estou fechado a incursões sentimentais. Só queria um pouco da paz que sua doçura representa. Depois podes ir sem olhar pra trás, se assim o escolher. Entretanto vou contar meu segredo agora. Aquele que guardei por tantos anos duvidando de ainda encontrar o amor. Era alguém como você que eu esperava. É esse o segredo que agora se desfaz, pois talvez o seu silêncio seja a sua resposta. Os dias permanecerão livres e frios, sem você. Dias inteiros no vazio que é ser livre sem teus beijos?
Nunca! Prefiro que sejas a dona dos meus sentidos.
Prefiro a escravidão da esperança, à dureza moribunda do ceticismo.


Leometáfora

Só posso te dizer uma coisa.


Só posso dizer uma coisa. Vejo o mundo diferente quando te percebo. Perco as razões tão brutalmente que é preciso horas para recompor os pensamentos. Talvez vagar pela vida sem tua pele seja um fardo insuportável para um ser tão atormentado pelo desejo de amar. Talvez faltem verdades que me levariam até você. Ou nesse sonho inóspito onde estou sentado numa praça, e a chuva torrencialmente se derrama, haja um impasse cruel entre meu desejo e o teu, de coexistirem, e começamos a achar a frieza do mundo acolhedora. Neste momento, insisto num olhar incômodo. Nem percebes, ou te salvas na dúvida, simulando interesse em alguma coisa ao teu redor?
Não sei! Deve ser mesmo difícil ser tão desejada assim.

Leometáfora