sábado, 29 de maio de 2010

Maria


E agora, Maria?
Apagastes a luz
Todos foram embora.
Tuas crias dormiram
Faz frio lá fora
E agora Maria?
E agora, mulher?
Tu que tanto sonha,
E que os outros humilham.
És de poucas palavras
Pois ama passiva
E agora Maria?

Está sem seu homem,
Largada a saudade,
Está sem vontade
Só lhe resta beber
Ou quem sabe fumar,
Pra sarar essa mágoa?
Pois já é madrugada
E o dia já vem,
Mas não queres mais.
Com teu riso partido
De teus pesadelos
E tudo foi nada
E tudo era João
Mas João já se foi
E agora Maria?

E agora Maria?
Sua doçura em sentidos
Seu instante de gozo
Sua carne em jejum
Sua lavagem de roupa
Que lê gera uns vinténs.
Seu vestido de chita
Tão incoerente, com a moda,
E agora?

Com a mala na mão
Quer partir amanha
Não existe amanha
Quer morrer ali
Mas com filhos não pode
Quer ir para João
João já não há mais
Maria, e agora?

Se você soubesse
Se você quisesse
Se você pudesse
Ter uma outra história
Se você aprendesse
Ou se afinal cansasse
Ou se afinal dormisse
Mas você não dorme
Você é dura Maria.

E sozinha na vida
Qual cachorro vadio
Sem a mula Dorô
Que morreu de aftosa.
Sem uma certidão
Ou um ombro amigo
Para se aconchegar
Você sonha Maria!
Maria, pra que?


Leometáfora

Quadrilha moderna


João se divorciou de Tereza que era amante de Raimundo que tinha tara por Maria que era casada com Joaquim que era namorado virtual de Lili que era lésbica e pensava que Joaquim era Mara.
João virou alcoólatra, Tereza pegou Raimundo com Maria e depois de um Ménage à trois, continuam juntos, os três, até hoje, Joaquim virou gay e dançarino, Lili amigou-se com Fernanda que ainda não tinha aparecido na história, mas era vizinha de todos e assistia tudo do outro lado da rua.

Leometáfora

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Noites eternas


Há pessoas tão especiais que não cabem em um único sonho. É preciso que as noites sejam eternas para contemplá-las!

Leometáfora

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Não ria


Não ria. Não é engraçado. Um poeta sendo correspondido em seu amor é alguém sem palavras.
Cambaleia atônito sem o contrapeso da tristeza. Ele se tornou livre de sua servidão platônica. O poeta sendo correspondido em seu amor é só pensamentos. No mundo de imagens que carrega nada se transfigura em poesia. Ou melhor, tudo é poesia menos as palavras. A amada não entende o silêncio. Ele não pretende maculá-la com suas tentativas de conter a alegria que transborda. Morrem as explicações possíveis.
Só o amor o carrega inebriado.

Leometáfora

Tu e eu


Ah teu doce chupado em estampido. Teu rastro nas entranhas de meus lençóis.
Teu cheiro corando minha face confessando o gozo. Teu ritmo colorido de suor.
Tua nave navegante em nuvens. Tuas madeixas, tuas deixas. Crias flor onde deitas.
Cria cor teu batom tirado num beijo. Ah tua fala cuidadosa de silêncio. A tua tarde despertando a noite em sonho.
E onde mora o amanhã seguinte, Lá estaremos. Tu e eu. E a tua certeza que não se nega.

Leometáfora

E quando sorris...


Sua sabedoria reside no movimento do teu corpo. E o que é mais influenciador do que o doce dos teus lábios? Não é o teu discernimento que me conduz, e sim os gestos seguros das tuas mãos. Não é o orgulho que possuis que me reprime nas horas de ira, mas sim a tua feminilidade. E quando sorris, prolongam-se os anos que viverei para ti. E se chorares sobre um grão de areia, mesmo que longe dos meus ensinamentos, farei com que as manhãs silenciem
a espera de suspiro e consolo de teu olhar.

Leometáfora

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pequena crônica sobre paixões


Pai eu quero uma boneca!
O que é que é isso meu filho, e isso lá é coisa de menino?!
Ah pai eu quero. Uma boneca que ande que tenha cheirinho gostoso e que fale baixinho ao meu ouvido palavras de amor.
Ah então você não quer uma boneca, você quer uma mulher não é meu filho?
Não pai. Uma boneca dá muito menos trabalho.


Mãe eu quero Um boneco!
Mas filha boneco não é coisa de menina.
Ah mãe, mas eu quero um boneco, desses fortões cheios de charme, com ar de inteligente que quase não fala, mas escuta bastante.
Que seja educado e sensível.
AH minha filha, então você quer um boneco mesmo.

Leometáfora

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Conceito A em excelência social


Você já conquistou seu certificado de CONCEITO A em excelência SOCIAL?

Se sim parabéns, você já pode caminhar com orgulho em nossa sociedade. Ops! Nossa não, corrigindo. Pela sociedade. Já que não consegui nem ao menos um mísero conceito C. Não vou mentir em dizer que desisti sem tentar. Entretanto é muito trabalho braçal, mental e exige sacrifícios inimagináveis. Como muitas vezes não ter escrúpulos, pudores e se entregar a um regime de normas muito rígidas para alcançar uma excelente e magra aparência e uma pesada e gorda conta bancária. Fiz justamente o contrário, confesso. E com isso consegui ser discriminado duas vezes: primeiro pelos sortudos do conceito A, segundo por aqueles que buscam incansavelmente esse patamar tão exuberante. Ah podem me criticar mais uma vez, já que muitas vezes o fazem naturalmente, mas não estou a dizer que querer estar bem consigo mesmo, com saúde e com muito dinheiro no bolso seja algo ruim. Longe de mim essa idiotice. O que sinceramente não entendo é que será que não vêem que está faltando alguma coisa nessa composição tão aparentemente perfeita. Pelo conceito de harmonia de sociedade, o Conceito A em excelência social não deveria ter o pré-requisito de tratar bem as pessoas ao seu redor? De respeitar o direito de individualidade. De não menosprezar aqueles que ao invés de ficar escutando uma zuada repetitiva que só usa vogais, movimentos de abaixar e levantar, ir para frente ou para trás, dar uma reboladinha ou usar apelidos carinhosos para órgãos genitais, prefere ouvir um Caetano, Djavan, um Vander Lee, um Chico, Cesar ou de Holanda. Respeitar a decisão daqueles que preferem o prazer mais tranqüilo de um livro, um teatro ou um concerto a momentos de alegria numa mesa de um bar ou numa Rave tumultuada. Respeitar quando se deixa de pagar por uma roupa de grife pra pagar a mensalidade da faculdade ou de um cursinho só pra tentar crescer um pouquinho na escala dos conceitos. Entender que nem todos nascem livres do peso da pobreza, da pouca beleza externa, livres de escolherem as ferramentas que vão usar para compor seu caminho. Os filósofos dizem que cada um tem a liberdade de construir seu caminho, mas digo que as ferramentas dessa construção você herda quando nasce e se percebe gente no meio de nossa tão “acolhedora” sociedade.
Na minha opinião, O “ninguém é melhor que ninguém” é uma mentira deslavada. Sou preconceituoso com as pessoas de má coração. Se você é uma pessoa boa, prestativa, respeita a individualidade de cada um, ao invés de criticar elogia, ao invés de humilhar exalta o próximo, não condena antes de conhecer a verdade você é muito melhor do que alguém que não faz nada disso. Mesmo que esse alguém tenha uma ótima aparência e seja podre de rico.
Ser bom é que devia estar atual e na moda.


Ps: Veja pelo lado bom, se você já é lindo e rico mas ainda não começou a tratar o próximo com respeito e carinho, falta tão pouquinho. Comece! E eu que sou feio e pobre e ainda estou aprendendo a lidar com o próximo? Aff! Que trabalhão. Nem sei por onde começar.


Leometáfora

terça-feira, 11 de maio de 2010

CLARINHA

No paço transparente onde os sonhos moram.
Na noite suspensa em que os poetas choram.
Nesses dias relampejantes de umidade e calor.
Tardava errante e fraco, o peito a suplicar amor.

Foi ver-te Clara, vertigem anunciada.
Coberta em estrelas, na noite enluarada.
Trouxeram os anjos afinal trouxeram!
Gritei ao vento os sons que me vieram.

Gritaria paixão se olhos meus mirassem.
Louvaria teus lábios se lábios meus falassem.
Mas tudo mudo e cego de um amor que afronta,
em sabedorias tolas que o sofrer desponta.

Num silêncio torpe, prefiro o anonimato,
à perder-te, Clara, a declarar-me em ato.
Prefiro as estrelas, te dirão que sinto.
Prefiro a saudade a condenar-me extinto.

Leometáfora

sábado, 8 de maio de 2010

Sim, são versos de amor.


Sim, são versos de amor. Admito, não sem remorso. São versos de amor, de uma tolice corriqueira e repetitiva. Uma tolice culpada e tantas vezes feroz. São desejos inúteis de alimentar algo de meu em teu seio. Podes rir da minha completa incapacidade de não te esquecer. De trazer nos meus versos esse inquilino corrosivo e exigente que se tornou o amor. De quando sentir sede, lembrar dos teus beijos. De quando respirar, lembrar do teu cheiro. Não sei de outro modo.
É assim que eu me dispo.
Contradizendo a razão que me pede pra eu desistir de tudo.

Leometáfora

POEMA LOUCO

Ah deixa eu te dizer, vou fazer um poema bem louco.
Que rime tarde com perca, tristeza com farça, amor com tão pouco.

Leometáfora

PALAVRAS. PALAVRAS. PALAVRAS.

Palavras, palavras, palavras. Tem gente que as usa para parecer melhor que os outros. Eu as uso para falar de amor!

Leometáfora

terça-feira, 4 de maio de 2010

Vazio


Hoje mora comigo a solidão nessa nova casa. Sem móveis, mas cheias de silêncios quando os gatos não namoram no telhado. Hora faz calor, hora minha carne se enrijece do frio de alguma madrugada. Nem sempre. Tenho sonhos azuis. Com céus e uma moça que amei há muito tempo. Às vezes tenho a sensação que a casa reverbera a minha tristeza. Põe os dedos sujos nas cordas da minha alma e faz da dor melodia e bossa. Nem sempre. Gosto do verde do pequeno jardim descuidado. Não sei quando os vizinhos vão limpá-lo, e eu até poderia se quisesse. Não quero. Meus olhos fundos pelas noites que me falta sono. Meus ossos rígidos por dormir no chão. Minha carne marcada pelo peso da minha renúncia de vida. Tudo é absoluto no único instante que desejo viver. Porém são poucos. Existem três exercícios diários que decidi não abrir mão: Ler um parágrafo, escrever um parágrafo, conhecer alguém. Não, não estou procurando arranjar um casinho.
Apenas gosto de aprender com os semelhantes, as diferenças.


Leometáfora