segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Moça ( Dedicado a Ingrid Fernandes )


A moça não cabe no poema.
O mundo gigantesco, com suas fastiantes novidades, com suas velozes invenções, cabe no poema.
A moça não.
Ela é toda alusão a uma coisa que no próximo segundo será ainda melhor.
O meu dia a dia, a conversa dos meus amigos, a voluptuosa manhã e as suas cores viciantes, cabem no poema.
A moça não.
Porque é tão difícil contê-la?
A moça sorri da minha inútil resolução.
Ela goza da minha inócua poética marginal.
E eu aproveito a sua distração e prendo suas mãos, suas madeixas escuras, sua sombra decidida.
Tenho a certeza que será agora.
O poema se prepara para recebê-la. Seu corpo já consigo construir sobre os traços do verbo. Mas seus sonhos, seus medos, suas dores mais silenciosas, sua alegria acalentada a esperanças, não posso reter.
A moça se esvai toda em poeira. Como uma miragem.
Mas não há poesia sem a moça. Só apenas desconjuntados artifícios de espera.
Drummond já sabia, que quando apaixonado, não é o mundo que é vasto.

Leometáfora

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