quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um dia sublime ( Uma história de amor )


Era um dia sublime. De vento mansinho. Estava ansioso. Tomado por sua espera. O tempo do relógio me olhava impaciente. – Hoje estou mais velho – Pensei. A pergunta daquela tarde seria se você viria. Se o próximo ônibus traria minha existência de volta. Havia dúvidas pesando em meu peito. Era o flagelo da distância. – Será que ela vai gostar de mim? – Perguntou-me um menino que a muito me espreitava atrás da dureza da vida. Ele me encheu os olhos de água e respondi-lhe: – Tomara! – Então sorriu a esperança inocente dos que acreditam em sonhos e disse com os olhinhos trêmulos: – Ela está demorando! – Oh menino o que eu posso fazer? – Você me levará pra junto dela? – Claro meu anjo! – Ele me abraçou e meu peito tornou a sentir o cheirinho que a minha vó me fazia ter após o banho. Foi ele quem a viu primeiro. Pulava como um louco e todos o olhavam sorrindo. Eu nunca faria aquilo em público, entende? Me mantive firme em meus receios. – Pare menino! – Porque? – Estava tão alegre derrepente. Tão presente. Tão real. – Porque eu não posso chamar ela, senhor? – Porque todos estão olhando, não vê?! – Falei rispidamente. Sei que fui grosso na hora. Mas aquilo de me chamar de senhor me perturbou. Não tinha acostumado com a idéia assim explícita de que o tempo transcorria tão rapidamente. Afinal eu tinha feito mais um ano de vida. Será que estava tão na cara assim a minha idade? Ou era apenas uma atitude respeitosa do garoto? Então o garoto pegou em minha mão. – Você se importa com cada bobagem, senhor! – Olhei-o surpreso e resolvi deixá-lo fazer o que bem entendesse. Se ele era mais audaz, então o direito era dele. – Vá até ela!- E ele não soltando a minha mão me puxou até você. Pensei que só eu podia ver aquele menino descalço e eufórico me arrastando. Acho que por um momento você pensou que eu era um louco. Ir te buscar assim, carregado por um garoto descalço e só de bermuda. – Ela é mais linda do que você pensava não é? – Perguntou-me. – É garoto! Pronto fique quieto! – Eu tinha que deixar ele te abraçar primeiro. O meu abraço viria depois. – Ei senhor. Você não vai chorar agora não, né? Ela veio viu! Eu sempre soube que viria! – Certo garoto! Nos deixe agora, por favor! – Agora que me veio à lembrança preciso perguntar. – Me excedi naquele beijo? – Nunca soube, porém precisava daquilo. Que o amor imaginário desse lugar ao néctar real de tua boca. Se ainda consigo lembrar de alguma coisa depois de acordar daquele beijo, foi que seguimos ao carro com o menininho cortando os espaços em êxtase. Eram duas e trinta e dois da tarde de uma quinta feira. Vinte e quatro de novembro. Como lembro da data precisa depois de tantos anos? Essas coisas não se esquece, meu amor! Esses momentos se entranham na alma e nem a morte os apaga. Chegamos à pousada que eu teria as duas semanas mais lindas de todos os meus dias até ali. Você estava tão doce, tão bela, naquele vestido azul. Trazia um colar de prata com um pingente em formato de uma singela fadinha. Fadinha, era como você gostava de ser chamada. Fiquei ali na porta sem responder aos meus instintos. – Fale alguma coisa senhor! – O garoto me incentivou. Das palavras só conseguir ouvir o eu te amo que te disse quase mudo. Lembra como fiquei? Como o meu corpo que te acolhia estava trêmulo? Como meu coração espancava o peito alucinado? Ah aquele cheiro! Abracei você e vi que o menininho contemplava as estrelas. Estávamos felizes por você ter vindo. Eu e o menininho, que era a minha vontade de viver projetada como um anjo. Ele me sorriu, quando o deixamos na varanda e entramos no quarto. Ainda o ouvi dizer calmamente: Pode ir senhor, ela te ama também! Oh doce sábio menininho que não teve medo de acreditar. Que me fez esperar todo esse tempo por ela. Que sempre a amou mais do que eu, e agora me deixava tê-la em meus braços como se de fato a merecesse. E quantas noites de insônia eu gritei no escuro que você não me amava? Que aquilo era loucura. E aquelas mãozinhas incorpóreas, mas firmes, acalmavam minha mente acariciando meu cabelo. Pobre homem! Era isso que ele dizia em sua tristeza. E agora nos deixava á sós?
Pois tomei você pra mim num beijo ardente. Mais uma porta fora aberta entre nós. Já havia preparado tudo. As luzes eram suaves, o quarto perfumado, pétalas numa enorme bandeja que esperavam para lhe cobrir como rosa. Ah os seus olhos! Essas duas constelações de fantasias, que detêm o olhar mais humano e bondoso da terra, sorriram seus tons em prisma. Você estava feliz, lembra? Disse que eu era seu rei. A sua nave para as estrelas. Toquei suas coxas e as escalei trazendo comigo seu vestido. Chupavas minha língua ansiosa. Corrias suas mãos ardentes em minha pele. Arrancou-me a camisa, em sua sede perpétua de mim, que só saciaria com o peso do meu corpo te acolhendo. Te abraçando. Te levando pra cama já despida e nua, como a lua. Como um filme, seus anos inteiros passaram em sua mente. E enquanto contemplava-os, percebia que nada era tão intenso e viril como aquele instante. Nada a separaria daquela história de amor. Era como se Deus compadecido de meu sofrimento me presenteasse com a alegria eterna. Nua, e com os pelos eriçados como felina no cio. Mostrando a língua para que eu a devorasse. E foi isso que fiz. Derramei-me sobre ti como água que se aconchega onde deita. Teus seios, meus caramelos. Colhi o pólen da úmida flor do jardim de suas ancas. Bebi-a inebriado pelo aroma suave que exalava. Que convidava minha boca a prová-la. Que convidava minha língua transfigurada em beija flor a contorná-la. A misturar-se a ela. A gravar seu cheiro nos poros abertos que identificam os sabores. Você sussurrava palavras de amor como se cantasse. Como se soltasse no ar desafiando a gravidade. Não tinha sentido o lá fora. Só aquele quarto era a existência suspensa que nos continha. E você me provou de inúmeras formas em sua fome de amor. Queria decorar minha pele, minha carne madura curtida de sol e tempestades. Era toda boca que me tomava. Que me chupava como se não tivéssemos muito tempo antes da vida desabar. Então me cavalgou para longe. Longe das inseguranças. Longe do peso da distância. Para infinitamente longe de tudo que um dia foi sofrimento. Para o paraíso do amor verdadeiro. Lembra? Eu te amei desde o momento que me disse oi. Hoje estamos aqui e ao recordar disso tudo, você me convida para nos amarmos como a primeira vez. Deixemos o menininho na varanda. Ele tem nove anos e é o nosso fruto. Lembra um pouco o garoto que esperou comigo a sua chegada. Mas tem os olhos da mãe. E é com eles que contempla
as estrelas dessa linda noite.

Leometáfora

Um comentário:

Deysiane Souza disse...

Mellhor Históriia q eu Lii ! ameei ♥