quarta-feira, 21 de abril de 2010

A verdade nua e crua? ( Crônica de um desabafo )


Senti vontade de te falar sobre isso.
O que alguns de nós aprendemos desde cedo é que as coisas acontecem quando têm que acontecerem.E por falta de esclarecimento ou até mesmo comodidade, decidimos deixar a cabo do destino a nossa estadia na terra. Não em tudo na vida, é claro. Na verdade somos muito mais objetivos e empenhados com relação ao trabalho e crescimento intelectual do que em relação aos nossos relacionamentos amorosos.
Tratamos o amor como um esforço do cupido para nos tirar da solidão. Mas o cupido é um ser preguiçoso ou acéfalo e nos empurra para uma cilada atrás da outra! Hoje pela manhã, aproveitando o feriado do dia 21, assisti ao filme A VERDADE NUA E CRUA e cruelmente tive que rir admitindo que além de divertido o nome faz jus literalmente ao seu conteúdo. Uma produtora inteligente, bonita, autoritária e solitária, se vê obrigada a trabalhar com um apresentador de um programa de baixo conteúdo mas que vem alavancando os níveis de audiência nas emissoras por onde passa. A incompatibilidade entre os dois é evidente. O apresentador é explicitamente tudo que a produtora abomina em um homem. Cafajeste, mulherengo, mal educado, pornográfico e totalmente contra qualquer demonstração de romantismo. Em determinado momento ele ainda diz que o amor não é importante e que se deve buscar a luxúria para alcançar a felicidade.
Tosco? Assustador? Engraçado? Pode ser!
Infelizmente é a verdade nua e crua para a maioria. A verdade que poucos têm a coragem ou a sinceridade para admitirem.
Apesar de todas as diferenças entre os dois cria-se um laço de amizade onde o apresentador, fazendo uso de suas teorias começa ajudar a produtora a conquistar o homem dos seus sonhos. Um médico bonito, rico, romântico e educado. Porém para isso a moça precisa se transformar numa espécie de boneca idiota que é incapaz de ter opinião e se sujeitar a vontade do medico. E é evidente que depois da farsa ela o conquista.
Já em outro momento, quando o apresentador, desmentindo tudo o que julgava certo a respeito de sua MULHER-BONECA-IDEAL, se apaixona pela bela produtora com suas qualidades e defeitos reais, ele justifica indiretamente porque se tornou um tipo O-AMOR-QUE-SE-DANE, ao questionar a moça por seu comportamento obsessivo em encontrar um homem que seja exatamente o perfil que ela imagina em sua cabeça. Um homem imaculado, fabricado por sua imaginação e critérios muito exigentes. O apresentador ainda acrescenta, que ela, como todas as outras, prefere o dinheiro ao caráter, a beleza ao invés da alma, cavalheirismo ao invés de princípios e na verdade a luxuria ao invés do romantismo. Só que neste momento ela já tinha mudado todo o seu conceito sobre o homem ideal e começando a admirar o lado humano daquele tosco apresentador que desistiu de uma proposta tentadora de sair de uma emissora local para uma emissora nacional, só para não ficar longe do seu sobrinho que não tinha uma figura paterna em casa.
Como era de se esperar o resultado final é delicado e ao mesmo tempo engraçado. E deixa aberta uma questão muito coerente sobre como anda a nossa realidade amorosa. O que buscamos? Será que estamos usando receitas prontas para procurar um amor como se procura um medicamento? Será que alguém que não tenha todas as qualidades impostas pela mídia e ou sociedade não seria capaz de nos fazer felizes?
Depois do filme, li uma notícia que fala como repercutiu a história na opinião das mulheres e homens. A crítica falava sobre como mudou o conceito de galã do cinema no dias de hoje. Um galã romântico dos filmes de antigamente, certamente seria um solitário. Os novos galãs que surgem no cinema moderno deixam o romantismo, as divertidas etapas das conquistas para trás e apenas explicitam que querem fazer sexo e pronto. Sexo sem compromisso. Atrevidos e desrespeitosos, se bem que nem sei mais o tipo de respeito que as mulheres hoje desejam. Esses homens chegam como animais demarcando seu território, figurando personalidades previamente planejadas com os milhares de livros que circulam na internet. Livros tipo: " CONQUISTAR QUALQUER MULHER É FÁCIL, NEUROLINGUISTICA DA SEDUÇAO, A BIBLIA DA SEDUÇAO, O PODER DAS PALAVRAS NAS HISTÓRIAS IVENTADAS PARA CONQUISTAR " como se as mulheres fossem seres neuróticos e facilmente manipuláveis. E aí eu me pergunto:
Como fica o romantismo? A sinceridade? Os desejos puros de cuidar do outro e respeitá-lo? Será que terei que deixar de ser um “tolo” poeta romântico para seguir o que dizem os livros? Será?
Tenho que confessar que isso me dá muito medo.
Medo porque as coisas mudaram, o mundo evoluiu em relação a tudo, pena que nem tudo para melhor. Traições, perversões, desrespeito para com o próximo, relacionamentos falidos e tantas outras coisas doentias quem nem vale enumerá-las.
É ESTÁ CERTO, a pergunta que deve estar soando aos ouvidos de algumas pessoas que estão a ler esse desabafo: SERÁ QUE ELE LEU ALGUM DESSES LIVROS? Sim. Já li. Já usei alguns conceitos e infelizmente deram certos. Muito certo. Isso devia ser bom, mas não é. Eu deixava de ser eu mesmo para conquistar alguém. Eu deixava de fora meu romantismo, minha sinceridade meu amor próprio para protagonizar um cara que eu não sabia quem era. Os resultados na conquista eram positivos? Sim. O que era negativo eram minha consciência e a raiva que se instalava depois da conquista por aquelas que se deixavam manipularem por conceitos aprendidos nesses livros. Fiquei deprimido. Tive crises existenciais terríveis. Dores de consciência por estar enganando alguém que certamente estava adorando ser enganada. Graças a Deus não faço mais isso.
É o caminho mais fácil para vencer a solidão, mas o preço é muito alto. Se vender ao mundo frio e desumano é uma carga pesada demais para se carregar.
Serei romântico até que quando me seja permitido, escrevendo a noite no silêncio do quarto vazio, chorando lágrimas quentes e saudosas, varrendo a solidão com meus poemas de amor. Porque neles, o amor que exalto é verdadeiro, não tem artimanhas
e pode fazer muito feliz a quem um dia virei a amar.

Leometáfora

2 comentários:

Emilene Lopes disse...

"Serei romântico até que quando me seja permitido, escrevendo a noite no silêncio do quarto vazio, chorando lágrimas quentes e saudosas, varrendo a solidão com meus poemas de amor"
Palavras de um poeta, minha adimiração pelo texto, e obrigado pela dica do filem.
Bjs
Mila

Danielle Souza ♥ disse...

Perfeito ! ♥