sábado, 17 de abril de 2010

Os poetas estão morrendo



Os poetas estão morrendo. Em quartos escuros e úmidos. Nos bancos da praça silenciosa. Em retiros. Em casebres. Em bibliotecas cada vez mais escassas. Estão morrendo enquanto caminham no asfalto respirando a fumaça. Enquanto bebem algum vinho agridoce. Enquanto suspiram. Já fazem parte da paisagem melancólica dos lugares esquecidos. Alguns até alcançaram a modernidade, o email, o Orkut. Fizeram blog. Divulgaram na net. Mas logo ficou claro que poesia virou uma alegoria fantasma figurando em páginas que ninguém lê. Lembro de um poeta, amigo meu, que rasgou duzentas e cinqüenta e seis poesias de sua autoria, antes de definitivamente parar de escrever, e questionado por isso, respondeu que a única pessoa que gostaria de lê-los ja havia o feito. Disse isso apontando pra si mesmo com uma profunda resignação. Por isso eu repito que os poetas estão morrendo. Repare bem, digo que são os poetas, não a poesia. A poesia continua nas curvas da moça que passa, no seu perfume de flores, no seu sorriso cantante, nos carros acordando a avenida, nos prédios, nas sombras, nas cores e suas combinações, na vida que surge, na pergunta do filho, na lua, no mar revolto ou sereno. Há poesia em tudo para olhos sensíveis e treinados. Só o poeta esta fúnebre. Grita inaudível de sua cova de fracassos. O que aconteceu? Pode perguntar alguém que acaba de chegar e não viu toda a transformação dos sonhos, esperanças e amores do novo milênio. Aconteceu que o amor se transformou hoje em uma sensação associada a um artigo que compramos, ou uma explicação para as nossas escolhas infelizes. (É porque eu o amava! Diz ela!)
Depois veio a desvalorização do saber cultural. Do saber intelectual. A valorização da conveniência econômica em detrimento à relações verdadeiras. O dilaceramento do romantismo antes que o poeta pudesse resgatá-lo em sua missão suicida entre as laminas afiadas da indiferença. Eu achava que o poeta era a ponte. O apaziguador. Que com a sua transformação da poesia traria o gosto pelo aprender por prazer. Sem o estigma do conhecimento = dinheiro. Hoje sei que embalsamamos e lacramos sem vida, a beleza literária. Uma das mais belas expressão de arte, que é a poesia, perde o seu operário, o seu construtor. Se tornou viúva. Os poetas estão partindo e o que germinará de seus restos mortais chamarei de veneno, e será parte da enfermidade do esquecimento.

Leometáfora

4 comentários:

Danielle Souza ♥ disse...

Gostei MUITO! Parabéns! ♥

Emilene Lopes disse...

"A poeisa está viúva"
Pra ser poeta precisa-se de sensibilidade, o mundo de hoje tornou nossos "poetas", a maioria, insensiveis...
Concordo contigo...
Bjs
Mila

Nalva Nogueira disse...

É verdade... Querido poeta...

Mas eu ainda acho... Prefiro acreditar que o poeta É e CONTINUARÁ sendo essa ponte. Esse apaziguador.
O diferencial é que, com o que fora feito do amor... SENTIMENTO TÃO SUBLIME... Agora; apenas os próprios poetas e pessoas de almas muito puras e de sensibilidade aguçada... Conseguirão "enxergar" a beleza do amor em forma de poesia. E conseguirão compreender o que esse poeta; para mim, GRANDE POETA Leo metáfora, tenta passar em sua poesia. Em sua forma de dizer: “Que estão a deixar o encanto que a poesia traz para o amor; adormecer, desaparecer”.
Pois haverá beleza quando falarmos de amor, sem a alma sensível do poeta, que consegue perceber nos seus minúsculos detalhes a delicadeza de sentimento de magnitude tal, e transmiti-la em forma de poesia?...

Nalva Nogueira.

ATOR-DOADO disse...

mandando v né irmão agora sumido não dá né? pow manda noticia tira um dia para os amigos!