segunda-feira, 28 de junho de 2010
Trecho do Diário das Horas 002
Eu voltei. Precisava voltar.
Estavam todos lá, dedicados a uma festa alegre e cheia de paixões.
Eu estava demasiado pesado para caminhar entre eles.
Tinha o passado sobre mim.
Sobre as minhas veias viciadas.
Sobre o estômago obeso.
Sobre os meus olhos enfermos de pouca luz.
Preferi voltar pra casa e sentar em alguma cadeira perto da janela.
Porque eu deveria vê-los de longe.
Porque eu precisava acreditar que eu já tinha desistido.
Como um animal que dorme faminto em sua jaula vazia.
Leometáfora
Realidades
Trecho do Diário das Horas 001
Ela convivia com silêncios e esperas como ninguém.
Ficava ali parada olhando tempo, certamente com a mais pura verdade latejando em seu peito.
Como um presságio. Uma revelação.
Eu tinha medo de vê-la assim. Tão sufocantemente linda. A boca seme- aberta como a esperar
um beijo ardente. Os olhos levemente alertas a procura do seu homem.
Um homem que seria dela para sempre.
Um homem que seria muito mais que um simples acaso do destino.
Leometáfora
terça-feira, 22 de junho de 2010
Bom
Ela é mesmo um sonho daqueles em que o poeta só pode sonhar uma vez.
Numa única noite de lua onde as estrelas
fazem festa inutilmente para tentar brilhar mais que o sorriso dela.
Depois no máximo uma pequena lembrança,
se os deuses desavisados e distraídos nos permitirem.
Ela é assim!
Tão distante e inacessível, mas ao mesmo tempo tão poética
que enche meus cadernos de palavras loucas,
que só encontram sentido quando volto a vislumbrá-la.
Ela é mesmo um sonho.
Bom.
Leometáfora
Dizem...
Dizem que quando tudo parar ao seu redor você estará morto.
Dizem também que se você não acreditar com muita força, você não conseguirá nada dessa vida.
E finalmente dizem, que apesar de que a cada segundo presenciamos justamente o contrário,
Tudo se resolverá na hora certa.
Mas eu devo mesmo gostar dessa brincadeira fútil e pretensiosa de ser diferente.
Leometáfora
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Eu olharei pra você
A Moça ( Dedicado a Ingrid Fernandes )
A moça não cabe no poema.
O mundo gigantesco, com suas fastiantes novidades, com suas velozes invenções, cabe no poema.
A moça não.
Ela é toda alusão a uma coisa que no próximo segundo será ainda melhor.
O meu dia a dia, a conversa dos meus amigos, a voluptuosa manhã e as suas cores viciantes, cabem no poema.
A moça não.
Porque é tão difícil contê-la?
A moça sorri da minha inútil resolução.
Ela goza da minha inócua poética marginal.
E eu aproveito a sua distração e prendo suas mãos, suas madeixas escuras, sua sombra decidida.
Tenho a certeza que será agora.
O poema se prepara para recebê-la. Seu corpo já consigo construir sobre os traços do verbo. Mas seus sonhos, seus medos, suas dores mais silenciosas, sua alegria acalentada a esperanças, não posso reter.
A moça se esvai toda em poeira. Como uma miragem.
Mas não há poesia sem a moça. Só apenas desconjuntados artifícios de espera.
Drummond já sabia, que quando apaixonado, não é o mundo que é vasto.
Leometáfora
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Meu Jardim
Ando cultivando um jardim. As rosas não são raras. As flores dei-me a colher no mato. Têm um colorido que admiro e estão florescendo. Gastei um bom tempo revolvendo a terra e tirando-lhe as pedras. Ainda não está de todo pronto, mas já se respira algum perfume. Quando comecei, era inverno. Tardei a sentir coragem para o início. Teimei com as chuvas a minha empreitada. A água despencada, desenterrava as sementes, fazia tombar os galhinhos num desconstruir ordenado. E no amanhecer era preciso recomeçar o trabalho, dia após dia, até que o céu desse uma trégua justa. Eu conversava com as flores e elas tinham esperança. Eram carinhosas e compreensivas. Não como eu que não tive a paciência de te tentar amar de novo. Elas esperam a primavera e o passeio das moças nas calçadas. Eu espero o silêncio,
que não tarda a chegar quando me isolo nas lembranças.
Leometáfora
domingo, 13 de junho de 2010
Adeus!
Por todo amor dedicado, e nunca correspondido: Adeus!
Por essa hora tardia, quando não mais te esquecerei: Adeus!
Pelos sonhos desperdiçados construindo o futuro: Adeus!
Pelo medo de perder alguém que nunca tive de fato: Adeus!
Por todas as tempestades que vierem sem teu colo: Adeus!
Por todos os poemas escritos, mas não lidos: Adeus!
Por amares como eu, alguém que te faz sofrer: Adeus!
Leometáfora
sexta-feira, 11 de junho de 2010
É algo mais que admiração
É algo mais que admiração. É sonhar com ela. Sorrir se ela sorri. Sofrer quando o olhar dela se sente perdido. Perdoá-la quando se esquece de notar-me. Desejar que ela esteja sempre perto. Acostumar-se com seu cheiro. Reviver cada lembrança dela antes de dormir. Suportar as saudades, os desencontros, os momentos que ela não me suporta por alguma coisa que nem sei dizer. Controlar o coração quando ela passa. Encontrar milhares de motivos para adorá-la. Milhares de razões para nunca esquecê-la. Sentir-se em pedaços quando ela não vem. Todos os dias. Todos os minutos desde que a conheci. Todas as noites, antes de dormir, como uma oração.
Leometáfora
terça-feira, 8 de junho de 2010
A Falta
Já na hora tardia, vou corrosivo, marchando calado .
Há dias, a dor lacrimosa, pinta obscuro o mofado.
Como outrora, fuji para o mundo, lá fora um jardim incolor.
Aqui, n alma, um travo amargo compondo o final duma flor.
Ah foi um sonho tão bom, o passado.
Mas loucura afinal, qual surgir tão culpado.
No odor colorido dos tantos sorrisos.
Vaga a marca pulsando dos talhos incisos.
Antigo, antigo.
Falta, toda dolorosa, fria.
Antigo, agora antigo.
Coração a costurar nostalgia.
Paro! Um chamado! Ouvi uma voz procurando, roubando a razão num "por fim."
Grito! Foi a mim? Inclino aflito, único suspiro, num minúsculo sim.
Já as bocas pasmarão confundidas.
Lá os camaradas não voltarão a cantar.
Cá as portas abriram aturdidas.
Numa falta quando não mais voltar.
A palavra partiu o significado.
Amor, um ópio tão mal tragado.
Contudo fica um ósculo, tal faltar sujo, incontido.
Contudo fica aqui, findos anos mal vividos.
Leometáfora
PS: Esse poema é um LIPOGRAMA. Não há em parte nenhuma do poema a vogal E.
Exceto no nome do autor, é claro.
•Um lipograma ( do grego lipo, "deixar, retirar") é um texto escrito em que, propositadamente, não entram determinadas letras do alfabeto;
é mais interessante se não se utilizar uma vogal.
A PERDA (Para minha amiga querida Nádia e sua dor)
Deve doer quando uma árvore perde um galho para o machado. Quando uma parte dela foi levada pelo vento em alguma tempestade. A parte que se foi levou histórias boas que se pudesse falar, a árvore contaria. Perder alguém que se ama é como perder um pedaço de nós arrancado pela lógica cruel da vida. Palavras pouco podem nos ajudar, só o tempo lentamente vai sarando a ferida. Mas como numa cesariana sem resguardo a dor continua por longos anos. Até mesmo quando não há mais inflamação aparente ou sinais da ferida. Essa dor lancinante que se chama saudade, chega nos momentos de silêncio, nos aniversários, nas festas em família. Esta em tudo ao redor e nos espreita ao menor sinal de distração. Parece que nunca vai passar. Mas num dia distante passa. Com calma. Aos poucos. Não porque esquecemos os nossos amados, ela passa porque aprendemos a duros modos que é preciso continuar. É preciso seguir adiante e ter fé. E se você acreditar com todas as forças, talvez exista um lugar onde as
todas as partes se unem novamente, como um todo, perfeito e harmônico, e deve ser azul, como céu sem nuvens, azul num equilíbrio onde possamos ser inteiro novamente.
Leometáfora
sábado, 5 de junho de 2010
Versos Brancos
Quando eu rimo na vida é só uma indelicadeza do poema.
Pois não posso ser soneto, quadrado ou perfeito.
Escrevo branco, as minhas desventuras desordenadas.
Leometáfora
Pois não posso ser soneto, quadrado ou perfeito.
Escrevo branco, as minhas desventuras desordenadas.
Leometáfora
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Monólogo com um amigo
sábado, 29 de maio de 2010
Maria
E agora, Maria?
Apagastes a luz
Todos foram embora.
Tuas crias dormiram
Faz frio lá fora
E agora Maria?
E agora, mulher?
Tu que tanto sonha,
E que os outros humilham.
És de poucas palavras
Pois ama passiva
E agora Maria?
Está sem seu homem,
Largada a saudade,
Está sem vontade
Só lhe resta beber
Ou quem sabe fumar,
Pra sarar essa mágoa?
Pois já é madrugada
E o dia já vem,
Mas não queres mais.
Com teu riso partido
De teus pesadelos
E tudo foi nada
E tudo era João
Mas João já se foi
E agora Maria?
E agora Maria?
Sua doçura em sentidos
Seu instante de gozo
Sua carne em jejum
Sua lavagem de roupa
Que lê gera uns vinténs.
Seu vestido de chita
Tão incoerente, com a moda,
E agora?
Com a mala na mão
Quer partir amanha
Não existe amanha
Quer morrer ali
Mas com filhos não pode
Quer ir para João
João já não há mais
Maria, e agora?
Se você soubesse
Se você quisesse
Se você pudesse
Ter uma outra história
Se você aprendesse
Ou se afinal cansasse
Ou se afinal dormisse
Mas você não dorme
Você é dura Maria.
E sozinha na vida
Qual cachorro vadio
Sem a mula Dorô
Que morreu de aftosa.
Sem uma certidão
Ou um ombro amigo
Para se aconchegar
Você sonha Maria!
Maria, pra que?
Leometáfora
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