sábado, 27 de fevereiro de 2010

O vazio


No tempo de vazio nada aquece, apenas dissimula a ausência de frio.
Não se transpira energia gasta. Pois não se gastou erguendo sonhos.
Nesse tempo, só as flores murcham. Além, só a pele descuidada pela inércia.
No vazio, se perde o endereço de quem se ama. Ou se está vazio porque o perdeu?
No tempo de vazio você é rico das coisas que nunca irão te roubar, das coisas que não se dizem em festas.
És o impostor dos sorrisos. Uma imagem gigantesca aumentada pelo silêncio. E com o vazio não nascem as palavras.
Só a falta ainda sobrevive alimentando-se da memória. E a apatia gera mais uma jornada.

Leometáfora

Meus versos


Eu tenho mãos pálidas e frias. Ando me apaixonando pelo silêncio. Tenho menos medo da solidão.
Meus versos me alimentam do pouco que sobrou de tua saudade. Não estou à procura de sonhos.
Minha mansidão tem tua revolta como culpada. E minha paz é o fato de tua voz esta ainda em minha lembrança.

Leometáfora

Que livro você tem lido?


Eu sinto falta do tempo que se falava de livros. Que dividiam-se na alegria de ter posto à cabo um capítulo inteiro. Ver o olhar delatado pelas grandes verdades alimentadas por palavras. Sinto falta do tempo que se tinha mais assunto pra conversar. Que o flerte era uma recordar divertido das frases de romances devorados.
Hoje se fala pouco ou se fala mal.
Eu não queria sentir tanta falta de um bom papo.
Mas... Que livro você tem lido?

Leometáfora

Rascunhos


Na vida não sei usar rascunhos. Sou eu o tempo inteiro tentando não me despedaçar. Nem guardo comigo as histórias que não me fizeram bem. Eu bebi vinho demais na despedida de minha sanidade. Hoje não importa as horas.
Hoje quero crescer na medida de meu equilíbrio e serenidade.

Leometáfora

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Soneto


Não tive amores desses que começam cedo. Foram todos demorados e salgados vinhos. Não tive o gosto de mover moinhos. Meu vento fraco só empurrava medo. Galguei o espaço que o instante urge. Não fiz modinhas, já me sabia triste. Porque eu esperava o que não existe? Ou se não existe porque hoje surge? Mas vem Amor que agora acredito. Virei menino ou virei poeta? Em coração novo eu te deposito. Já de boca doce que tua boca aquieta. Das paixões sofridas eu me reabilito.
Hoje sigo leve o que tua luz projeta.

Leometáfora

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Alegria Infinita


Se existe um segundo que me realizo é quando vejo o seu sorriso. Todas as horas do meu dia são para esperá-lo. Mas você passa e nem me percebe. Hoje sei que sonhar com teu beijo é irrealizável. E eu que mudaria minha história para caminhar ao seu lado, sento a beira da estrada e choro. Oh doce poesia que me fez apaixonado, tua boca é o paraíso dos meus desejos. Não estar contigo é viver num monocromático mundo.
Ter você é absorver de um só gole o néctar de uma alegria infinita.

Leometáfora

Tomara que chova


Tomara que chova. Que os ventos agitem meus poucos cabelos. Que o frio já presente em meu peito o petrifique. Tomara que chova além do esperado. Derrube a muralha que ergui com tuas lembranças para que nunca haja um novo amor. Tomara, pois as palavras jazem inexprimíveis sobre o pouco de sanidade que me resta.
E estou farto dessa poesia que me veste de melancolia.

Leometáfora

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A redoma ( Dedicado à My Leid)


Porque decidistes condenar o desejo?
Se a loucura afinal torna tudo mais claro,
E um momento preciso é momento tão raro,
Na alegria infinda que virá com um beijo.

Na redoma invisível que teus sonhos flutuam,
No silêncio da noite que te chora o vazio
A espessa parede de um cristal muito frio
É o que nos separa dos sons que se agrupam.

Pois o meu velho coração ritmado balança
Com acordes tão tensos, de agudo ferino
Vou correr as palavras, adagas de lança.
Vou quebras as muralhas que nos prende ao destino.


Leometáfora

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ontem te aprendi em segredo (Dedicado a My Leid)

Ontem te aprendi em segredo. Conheci teu instante febril num pequeno sonho. Viajei por tuas palavras estudando o verbo de cada gesto intemporal de seus dedos. Adormeci e quando acordei me vi num turbilhão de esperanças. Sorri ao rever tua infância naquele jardim perfumado. Revi tuas primeiras chamas de paixão com a bile do ciúme. A tua juventude de bombons e confetes. O teu sofrer no vazio. A tua saudade do futuro. Acompanhei tua jornada ate o amanhã. Toquei teus lábios num segundo que fechava os olhos para amar. Senti tua pele. O teu gozo despertado no calor da hora. Conheci tuas deixas cômicas no terror de algumas surpresas desleais. Amei quem você amou. Odiei quem te fez sofrer. E por um momento acho que me reconheceu quando quis gritar. Quando quis fugir pra não mais voltar. Eu era o vento que brincava no teu cabelo esvoaçante de coragem.

LEOMETÁFORA

My Leid


Meus olhos turvam ante ao vazio. Claro que há saudade dos tempos alegres. Mas me pretendo livre do passado. Gosto de acreditar que já não sou o mesmo. Tenho afinal crescido. Eu olho o tempo transcorrendo e sei que você virá. De alguma forma você virá acalentar as minhas esperanças. Ouço tua voz ecoando na distância. Tão forte em suas ondas que rompem o dique que protege meu peito da arrebentação. E eu me deixo ir até o mar. Volto exaurido, mas ansioso por mais um mergulho. Hoje posso contar o meu caminho. Não tem tantas curvas como outrora. Sigo a estrada até sua órbita onde meus anseios flutuam em harmonia. Das vezes que não me quis, prefiro esquecer. Você não precisa me entender. O som que percorre as minhas veias é de um coração em desconcerto. E se pudesses arpejar nas minhas entranhas, com as cordas do teu violino, ouvirias em melodias as minhas juras de amor. Talvez tu me peças que me cale, e desejes que eu me desconcentre a procura de tuas mãos. Que não me eleve nos teus beijos. Que seja menos o teu homem. Menos a tua cura da solidão. Como posso fazer isso? Dizes que me confundo. Que não consigo enxergar que tu és livre. Que o calor que anseias esta longe dos meus braços. Mas o que vejo são teus passeios inúteis em ilusões. Teus segundos, pra mim tão necessários, dedicas ao mundo que furta a beleza do teus olhos. Dedicas ao mundo que te comprime ao anonimato quando deves ser grande. Preciso me reintegrar a existir sem tua pele. A respirar o ar pesado não filtrado por teu cheiro. Porém o que preciso mesmo é que te faltes o juízo e então já me ames. Que escolhas ter poesia além das cartas que escrevo. Que insista em ter poesia assim na alma.
Derramada, transbordante, inundada.

Leometáfora

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O que farei?


Nem as palavras de um poeta mexem com você?
Nem em saber da necessidade das horas ali derramadas pensando em seu beijo. Na cor de sua pele, no seu cheiro de flor?
Nem todas as rimas possíveis que um poeta se proponha a compor, não mexem com você?
Nem você descobrindo que escrever um poema com alguma métrica e qualidade é como quebrar pedras sob um escaldante sol?

Leometáfora

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Carta de amor nº 02


Pensei em te escrever uma carta, cujo conteúdo seria bem mais saudável do que tem sido minha busca interior. É que ando num surto de esperança que a muito me é desconhecido. Essas novidades mexem com a cabeça da gente, não é? Tenho um sonho recorrente em que estamos numa praça deserta durante um temporal. Você sente muito frio e por mais que eu tente aquecê-la não consigo. A minha incapacidade de te ajudar me deixa muito triste e começo a gritar por alguma magia ou milagre que faça aquela chuva passar. Não passa. O sonho vai se tornando obscuro ate que estou diante de um quadro negro onde duas palavras estão escritas em letras brancas: Não fuja! Entender custou um pouco do meu orgulho. Descobri que existem coisas que não merecem mudanças. Que precisamos vivenciá-las mesmo que a razão nos repreenda com veemência. Mesmo que ao final da jornada despenquemos fatigados com os pés esfolados e a boca amarga e ferida, sem a saliva que se extinguiu com o desejo. Querer te fazer compreender o que se passa agora parece efêmero demais. Ao acordar tenho a sensação que você nunca esteve aqui ao meu lado. Com sua suavidade disfarçada por sua força de mulher. Com sua delicadeza escondida sob o desejo de nunca errar e ter que voltar atrás pra se redimir. Poucas mulheres que conheci têm tamanha firmeza de caráter. Por isso não me culpe agora que me revelo. Antes havia o abismo de uma vida entre nós, hoje só existe essa sua mórbida paixão por quem nunca a mereceu. Não estou dizendo aqui que sou digno também do seu amor. Longe de mim essa fantasia tão maravilhosa. Não me encaixo no seu perfil de homem que valha a pena. Nasci torto e com um suave toque de insanidade que se tornou suficiente para escrever cartas como esta. Ah me chame de imprudente se quiser. De inconseqüente. Deve ser isso mesmo que sou. Contudo não sei desmentir o que manda meu coração e o que lutei tanto pra resistir. Quero que saiba que não é uma suplica. Não te peço respostas. Nada de peço alem de que sejas feliz. Vou continuar sonhando com você, desperto ou não. Farei canções de amor que talvez você nunca venha a saber que fiz pra você. Escreverei para ti o pouco de poesia que me cabe nessa minha limitada adequação para com o amor.
É duro, mas cansei de acreditar. Apenas uma pergunta: você nunca notou como fico tenso ao seu lado? Como a sua presença imponente me deixa atordoado? Ou como as vezes eu quase gaguejo tentando não parecer que é tão intensa a minha admiração por ti? Ah, podes pensar que deve ser porque te acho linda. Você é de fato muito bonita, mas é esse teu jeito decidido de ser que me incita fantasias. Essa tua esperança de que tudo sempre vai dar certo.
Prometo que não te escreverei mais sem que você me peça pra fazer isso. Prometo que te olharei menos, sonharei menos com tua boca, ficarei menos tempo a cada dia esperando a noite para te reencontrar. Prometo não ter esperanças, nem sobre esse meu desejo de estar ao seu lado nem sobre a vida. Vou morar no silêncio que me foi imposto, até que afinal ele me consuma a ultima hora de minha existência.

Leometáfora

Carta de amor nº 01


De ontem para hoje, nada dormir. Fiquei relendo o nosso diálogo, frase a frase. O que parecia der repente ser uma esquiva, noutra hora se tornava reciprocidade. O que denotava afeto em comum, em outro momento, fugia ao alcance de meu coração. Tenho certeza agora que não sei mais interpretar nada. Tudo salta ao controle rígido que minha mente impõe a meu lado prático da vida. Queria ter te abraçado quando dizias que aquilo tudo antecederia lágrimas. Talvez depois você se sentisse livre daquela dor. Leve para deixar minhas juras de amor te alentar algum sonho bom.
Me corrija se estou errado: Deves estar pensando em ate onde é verdadeira a minha atitude e em que parte pode ser apenas algum interesse escuso. A parte verdadeira é tudo que diz respeito a não parar de pensar em você, e o que isto esta fazendo em minha existência. A parte escusa disso, é que constantemente tenho tentado te esquecer. Porem essa carta é a prova cabal do meu insucesso.
Compreendo-te quando dizes que der repente te assaltam inúmeros caminhos e nessa única vida terás que optar por apenas um. Admito, é algo aterrador mesmo. Contudo, depois de uma caminhada, ainda podes voltar atrás e corrigir teus passos quando necessário. Pouca coisa enquanto estivermos vivos é imutável, querida.
Mesmo querendo te proteger, pouco poderei quanto ao futuro se estiveres longe de mim.
Quero que de antemão saibas que toda é qualquer decisão sua será sumariamente acatada, pois meu tempo de persistir como água na pedra, infelizmente findou. Hoje consumo, sem grandes estardalhaços, o que de fato me cabe. Não é que eu não sonhe, meu Deus! É que devo ter-me aconchegado resoluto ao destino. Devo agradecer-te os instantes de loucura e paixão que me proporcionastes com a tua doçura. Não precisei do teu toque para me apaixonar. Se bem que tocar tua mão seria como transcender a um lugar especial e secreto que tenho em minha mente e que um dia te confessarei.
No término cruel desta carta-- porque enquanto tu me lês, sinto que estou de certo modo ao teu lado -- preciso te dizer que estás livre para seguir teu caminho assim que desejares. Já eu ficarei aqui sorvendo a alegria de vê-la passar. Ganhando, com algum gesto seu, a energia necessária para um novo amanhã.

Ab imo corde. ( Do fundo do coração )

Leometáfora

Em partes iguais



Em partes iguais. Suavemente. Derretendo sem perder a forma a principio.
Como se fosse durar a eternidade. Vai meu coração se transformando.
Mas no que? Pergunto já descrente, convalescido pelos amores mal findados.
Talvez numa substância aquosa que assuma deliberadamente
o formato que a ela lhe seja concebida pelas efêmeras paixões.
Talvez, e certamente o mais provável, em nada.
Na liberdade do profundo vazio de não mais existir.

Leometáfora

Guarda um segredo?


Ei! Guarda um segredo?
Você está certa sou um Anjo!
De modos bruscos e sem asas.
Que trocou sua imortalidade por esse amor.
Já não tenho poderes.
Não posso escutar seu pensamento.
Descobri sobre os seus gostos com a sua irmã.
Já não posso voar até sua janela e velar seu sonho.
Ando perdido na imensidão desse mundo.
Meu olhar brilhante de antes, por avistar coisas inomináveis está fosco.
Perdi a graciosidade que um Anjo precisa ter.
Mas aprendi com os humanos a ter esperança.
Hoje não te protejo dos perigos da vida.
Só oro a Deus para que nunca os alcance.

Leometáfora

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Para Nathália Thomazella


Vai, isso é coisa de momento.
Essa lágrima, essa angústia sem nome.
Essa insensatez.
Depois passa.
Como a chuva que evapora na terra sedenta.
Vai doer só o tempo suficiente pra não estragar.
Porque viver, é assim.
Viver tem fome de esperança.
E vem a segunda, terça feira, quarta feira.
E você acompanha na TV tanta coisa.
Tanta coisa se passou e eu aqui parado? Você pensa.
Chega quinta, sexta feira, sábado e domingo.
Você grita: Aí eu não agüento!
Esta assustada demais com tanto silêncio.
Depois passa.
Porque viver, é assim.
Viver exige muito cuidado.
Cuidado pra não enlouquecer com a saudade, com a solidão, com os amores que não deram certo, com as contas do final do mês, com as relações tumultuadas entre familiares.
Viver exige respeito.
Respeito com os nossos limites.
Porque não podemos ser passarinho, nem elefante, nem leão. Não voamos, não temos tão boa memória, nem somos tão viris assim.
No resto, é melhor esperar. Esperar que a dor passe.
Que se formos comportados, o amor apareça.
Que fazendo a nossa parte, a relação melhore.
Que os nossos filhos sigam na direção certa e que se lembrem dos nossos conselhos.
Que os nossos amigos nos visitem ou que nos convide a visitá-los.
Que sejamos mais criativos e produtivos no trabalho e que o nosso chefe reconheça.
E por final, e o mais importante,
que o céu amanha venha limpinho, claro, azulzinho.
Então vamos pular corda, jogar amarelinha, soltar pipa, rodar pinhão. Reviver quando éramos criança e a dor só durava um minuto.
Porque éramos muito mais curiosos e inteligentes.


Leometáfora

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um dia sublime ( Uma história de amor )


Era um dia sublime. De vento mansinho. Estava ansioso. Tomado por sua espera. O tempo do relógio me olhava impaciente. – Hoje estou mais velho – Pensei. A pergunta daquela tarde seria se você viria. Se o próximo ônibus traria minha existência de volta. Havia dúvidas pesando em meu peito. Era o flagelo da distância. – Será que ela vai gostar de mim? – Perguntou-me um menino que a muito me espreitava atrás da dureza da vida. Ele me encheu os olhos de água e respondi-lhe: – Tomara! – Então sorriu a esperança inocente dos que acreditam em sonhos e disse com os olhinhos trêmulos: – Ela está demorando! – Oh menino o que eu posso fazer? – Você me levará pra junto dela? – Claro meu anjo! – Ele me abraçou e meu peito tornou a sentir o cheirinho que a minha vó me fazia ter após o banho. Foi ele quem a viu primeiro. Pulava como um louco e todos o olhavam sorrindo. Eu nunca faria aquilo em público, entende? Me mantive firme em meus receios. – Pare menino! – Porque? – Estava tão alegre derrepente. Tão presente. Tão real. – Porque eu não posso chamar ela, senhor? – Porque todos estão olhando, não vê?! – Falei rispidamente. Sei que fui grosso na hora. Mas aquilo de me chamar de senhor me perturbou. Não tinha acostumado com a idéia assim explícita de que o tempo transcorria tão rapidamente. Afinal eu tinha feito mais um ano de vida. Será que estava tão na cara assim a minha idade? Ou era apenas uma atitude respeitosa do garoto? Então o garoto pegou em minha mão. – Você se importa com cada bobagem, senhor! – Olhei-o surpreso e resolvi deixá-lo fazer o que bem entendesse. Se ele era mais audaz, então o direito era dele. – Vá até ela!- E ele não soltando a minha mão me puxou até você. Pensei que só eu podia ver aquele menino descalço e eufórico me arrastando. Acho que por um momento você pensou que eu era um louco. Ir te buscar assim, carregado por um garoto descalço e só de bermuda. – Ela é mais linda do que você pensava não é? – Perguntou-me. – É garoto! Pronto fique quieto! – Eu tinha que deixar ele te abraçar primeiro. O meu abraço viria depois. – Ei senhor. Você não vai chorar agora não, né? Ela veio viu! Eu sempre soube que viria! – Certo garoto! Nos deixe agora, por favor! – Agora que me veio à lembrança preciso perguntar. – Me excedi naquele beijo? – Nunca soube, porém precisava daquilo. Que o amor imaginário desse lugar ao néctar real de tua boca. Se ainda consigo lembrar de alguma coisa depois de acordar daquele beijo, foi que seguimos ao carro com o menininho cortando os espaços em êxtase. Eram duas e trinta e dois da tarde de uma quinta feira. Vinte e quatro de novembro. Como lembro da data precisa depois de tantos anos? Essas coisas não se esquece, meu amor! Esses momentos se entranham na alma e nem a morte os apaga. Chegamos à pousada que eu teria as duas semanas mais lindas de todos os meus dias até ali. Você estava tão doce, tão bela, naquele vestido azul. Trazia um colar de prata com um pingente em formato de uma singela fadinha. Fadinha, era como você gostava de ser chamada. Fiquei ali na porta sem responder aos meus instintos. – Fale alguma coisa senhor! – O garoto me incentivou. Das palavras só conseguir ouvir o eu te amo que te disse quase mudo. Lembra como fiquei? Como o meu corpo que te acolhia estava trêmulo? Como meu coração espancava o peito alucinado? Ah aquele cheiro! Abracei você e vi que o menininho contemplava as estrelas. Estávamos felizes por você ter vindo. Eu e o menininho, que era a minha vontade de viver projetada como um anjo. Ele me sorriu, quando o deixamos na varanda e entramos no quarto. Ainda o ouvi dizer calmamente: Pode ir senhor, ela te ama também! Oh doce sábio menininho que não teve medo de acreditar. Que me fez esperar todo esse tempo por ela. Que sempre a amou mais do que eu, e agora me deixava tê-la em meus braços como se de fato a merecesse. E quantas noites de insônia eu gritei no escuro que você não me amava? Que aquilo era loucura. E aquelas mãozinhas incorpóreas, mas firmes, acalmavam minha mente acariciando meu cabelo. Pobre homem! Era isso que ele dizia em sua tristeza. E agora nos deixava á sós?
Pois tomei você pra mim num beijo ardente. Mais uma porta fora aberta entre nós. Já havia preparado tudo. As luzes eram suaves, o quarto perfumado, pétalas numa enorme bandeja que esperavam para lhe cobrir como rosa. Ah os seus olhos! Essas duas constelações de fantasias, que detêm o olhar mais humano e bondoso da terra, sorriram seus tons em prisma. Você estava feliz, lembra? Disse que eu era seu rei. A sua nave para as estrelas. Toquei suas coxas e as escalei trazendo comigo seu vestido. Chupavas minha língua ansiosa. Corrias suas mãos ardentes em minha pele. Arrancou-me a camisa, em sua sede perpétua de mim, que só saciaria com o peso do meu corpo te acolhendo. Te abraçando. Te levando pra cama já despida e nua, como a lua. Como um filme, seus anos inteiros passaram em sua mente. E enquanto contemplava-os, percebia que nada era tão intenso e viril como aquele instante. Nada a separaria daquela história de amor. Era como se Deus compadecido de meu sofrimento me presenteasse com a alegria eterna. Nua, e com os pelos eriçados como felina no cio. Mostrando a língua para que eu a devorasse. E foi isso que fiz. Derramei-me sobre ti como água que se aconchega onde deita. Teus seios, meus caramelos. Colhi o pólen da úmida flor do jardim de suas ancas. Bebi-a inebriado pelo aroma suave que exalava. Que convidava minha boca a prová-la. Que convidava minha língua transfigurada em beija flor a contorná-la. A misturar-se a ela. A gravar seu cheiro nos poros abertos que identificam os sabores. Você sussurrava palavras de amor como se cantasse. Como se soltasse no ar desafiando a gravidade. Não tinha sentido o lá fora. Só aquele quarto era a existência suspensa que nos continha. E você me provou de inúmeras formas em sua fome de amor. Queria decorar minha pele, minha carne madura curtida de sol e tempestades. Era toda boca que me tomava. Que me chupava como se não tivéssemos muito tempo antes da vida desabar. Então me cavalgou para longe. Longe das inseguranças. Longe do peso da distância. Para infinitamente longe de tudo que um dia foi sofrimento. Para o paraíso do amor verdadeiro. Lembra? Eu te amei desde o momento que me disse oi. Hoje estamos aqui e ao recordar disso tudo, você me convida para nos amarmos como a primeira vez. Deixemos o menininho na varanda. Ele tem nove anos e é o nosso fruto. Lembra um pouco o garoto que esperou comigo a sua chegada. Mas tem os olhos da mãe. E é com eles que contempla
as estrelas dessa linda noite.

Leometáfora

Meu presente

Esse é o presente que te dou.
Um punhado de letrinhas furta-cor.
Um vexame de desejos tão velhinhos
mas como cachorrinhos,
esperando um gesto de amor.

Leometáfora

Lá vem ela!

Lá vem ela.
Ela e seu amor sem pecado.
De mãos dadas.
Tão risonhos.
Lá vem ela.
Aquela que despiu meus desejos.
Me deu ânsia de sonhos.
Fome de beijos.
Aquela que fez luz na minha poesia.
Lá vem ela.
Ela e seu amor sem pecado.
O pecado é todo meu eu confesso.
Confesso que lá vem ela.
Mas trocou de calçada, que pena.
E meus olhos acompanharam
seus passinhos fadísticos.
E meu coração reclamou porque não era eu quem ela buscava.
Com sua varinha amarela de condão e fantasia.
Com as sandalhinhas de fita colorida de carnaval.
Com suas asinhas vermelhas cheias de alegria e confetes.
Segue fadinha.
Segue.
Pois meus dias se passaram,
meus brinquedos se quebraram
já nem sei cantar modinhas,
hoje não vou mais sonhar!

Leometáfora

Valor

Alguns valores mudam com o tempo. O valor das pequenas coisas por exemplo. Eu tenho a completa sensação que nunca dei tanto valor a certas coisas como agora. E o melhor de tudo isso é que não presto mais atenção para criticar. Para ser negativo. Com os anos a gente aprende que qualquer gesto de amor é maravilhoso. Um olhar de relance quando não estamos prestando atenção. Um meio sorriso envergonhado confessando que de alguma maneira fizemos bem a alguém. Uma rápida mensagem no celular com um lembrei-de-você. Com o tempo, graças a Deus, ficamos mais maduros e sensíveis a tudo que esta ao nosso alcance. Talvez alguns de nós ainda consigam fantasiar acrobacias sentimentais. Mas no fundo estão taciturnos, como diz o poeta.
Então suavemente o amor pode vir e se instalar.
Por que é isso que esperamos que ele faça.

Leometáfora

Filha, painho te ama! ( Para Bianca Vitória )

A gente nunca sabe o que é amor verdadeiro até ser pai. A gente nunca sabe do quanto somos capazes até perceber que daríamos a nossa vida por um filho. Um filho é um pedaço da gente que nós plantamos na vida. É nossa continuação. O nosso presente para o mundo. E ele que faz nossa história de amor ter valido a pena. Mesmo que os relacionamentos amorosos com os nossos parceiros tenham findado, nossos filhos serão sempre uma luz num fim do túnel. Se existe algum amor incondicional que não venha de Deus, ele se chama amor de um filho para com um pai e isso deve ser recíproco para sempre.
Eu amo a minha filha incondicionalmente!

Leometáfora

O príncipe encantado

O príncipe encantado

Ah eu não quero um príncipe encantado.
Quem disso isso a você, menina?
Mas pelo menos ele tem que ser lindo, né?
Tem que ter um sorriso daqueles de comercial de pasta de dentes e usar no mínimo um perfume francês. E na pior das hipóteses um nacional dos bons que custe de cem pra cima.
Não precisa ter fama, mas se tiver melhor.
Um carro é essencial. Menos popular, por favor.
Tem que ter PHD em charme e elegância. Essas roupas que todo mundo usa ninguém merece.
Ele tem que ser safado. Nada daqueles caras comportadinhos, que fazem tudo que a gente pede. Eu gosto é de viver perigosamente.
É tão difícil de encontrar homem assim, menina!
Um homem básico, pelo amor de Deus, é pedir demais? Minhas tias tão aí sozinhas já faz tempo. Dá medo as vezes. E quando isso acontece eu fico pensando que o que eu espero de um homem são coisas que talvez eu não tenha. Nem sou tão bonita assim. Nem tenho esse sorriso tão perfeito. Ou até mesmo nem sei se sou tão boa assim de cama.
Tem um garoto da facul que me escreveu uma carta. Tinha umas palavras bonitinhas. Ele é feio. Não, não é tão feio assim não. Mas ninguém olha pra ele. Numa balada o pobrezinho ia passar desapercebido.
Minhas amigas nunca iriam aprovar.
Cara, eu to pensando nele agora!
Sai pra lá pensamento ruim!
Eu quero é aquele gostoso com cara de cachorrão.
Não vou ficar com um homem feio só porque ele tem bom papo, é inteligente, compreensível, tem bom coração e é tão bonitinho o jeito que ele me olha. Hummm e é tão romântico.
Vixe, parece uma praga. Que coisa chata! Não quero pensar mais nele. Afinal todo homem é assim, né?
Prefiro é sonhar com esse homem que não é o príncipe encantado
mas ta quase lá!


Leometáfora

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Nunca saberemos!

Se meu sonho tiver que terminar assim.
Serei forte, prometo.
Não andarei colhendo no vento as plumas de amor que não me cabem.
Nem te torturarei com esperanças malogradas.
Porque antes de tudo eu sei o valor de cada um.
E sei quando me cabe ou não uma riqueza.
Saiba que se cada palavra for verdadeira,
e se os caminhos forem diferentes é porque cada um sonha com o amor de uma maneira distinta.
E as vezes, acabamos por deixar fechar a porta que poderia nos levar para o paraíso.
Ou não.
Mas isso nunca saberemos!

Leometáfora

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Para a escritora que tanto admiro. Nalva Nogueira.


Acho que eu te esperava sem saber.
Via em outros mares as riquezas das descobertas.
As fantasias de um pirata louco.
Mas não havia onde aportar.
Tudo era mar. E as gaivotas não traziam ramos em seus bicos.
Porque tudo era mar. Profundo e silencioso ou tenso e revolto.
E os licores e vinhos, em minha adega, se tornaram amargos com o tempo.
E oficiais, sobre o meu comando me depuseram.
Fiquei a deriva de sonhos e desejos incompletos.
Juro que estava morrendo.
Que não havia nenhuma certeza de salvação para a minha alma.
Acho que foi no momento que te avistei naquele dia azul.
Descobri que havia encontrado o novo mundo.
A terra harmoniosa e cheia de dádivas divinas.
E estou remando ao teu encontro no pequeno barco que me restou.
Talvez eu demore a tocar suave, tuas areias brancas e macias. Pois estou velho e cansado e ainda resta tanto mar pra navegar.
Talvez seja a ultima coisa que eu faça antes de partir para além.
Entretanto estou certo que valerá a pena cada segundo de descoberta.

Leometáfora

Saudade


Nem sabes tu a saudade que me invade. Quem sou eu que procura a lua dos teus olhos no céu dos meus? Quem sou eu, que anseia pelo doce dos teus lábios num deserto infinito?

Leometáfora

Na sua espera

Na espera de ti eu amanheço. Caminho em silêncio e desejo a tua voz como guia.
Quem sabe é você a metade de mim separada?
Quem sabe é você o beijo que minha boca sonhou?

Leometáfora

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Quem tu amas?

Quem tu amas? Quem tarda a chegar em teu lar?
E esse sonho é bom? Essa é tua forma de se condenar?
Por onde passei vi selvagens, vi tiranos.
A soberba do dia na tristesa dos anos.
Porém não desisti.
Fui um pouco mais. Fiz até poesia.
E um olhar como o seu, desejei um dia.

Por isso estou confuso.Com as mãos atadas.
Coração desnudo.Livre de camadas.
De você tristonha, desenhando o tempo.
De você sorrindo, a dançar no vento.
Eu prefiro esta de alegria infinda.
Muito mais alegre. Muito mais que linda.

Leometáfora

Para Déèh

Tenso. Respira devagar. Cuidado.
Que ando meio torto tão resignado
Já de tantas fendas que essa vida esconde.

Sonhe, mas devagarzinho com seu passo lento.
Pois amor sincero vem qualquer momento.
Então fecha os olhos, sente e me responde.

Se passou o tempo e eu fiquei parado.
Meio delinquido meio assim Jogado.
Como vou seguir já sem ambição?

Se te vi agora? De ti sei tão pouco.
Como pode um louco ser inda mais louco?
E deixar o amor solto em sua mão!

Leometáfora

Faz de conta

É um faz de conta. Eu faço de conta que não te amo. Tu fazes de conta que eu não existo. Eu faço de conta que meus dias são coloridos e as verdades que me impusestes eu não sei de cor. Aí tu vens com esse teu sorriso de esperança e fazes de conta que sou teu amigo e que minha careta de dor na verdade é de gozo. É que meu coração na verdade é um poço, profundo e difícil de se navegar.

Leometáfora

Eu te amaria


Eu te amaria se todas as estrelas lá no céu fossem verdadeiras.
Se todas as plantinhas do mundo precisassem de água.
Se todas as camisetas de botões tivessem botões.
Te amaria se os segundos fossem a essência que compõem os minutos.
Se um ano escorregasse rapidamente em doze meses e me deixasse velho a cada aniversário.
Te amaria se umas vezes o céu corresse azul e outras cinza.
Se de madrugada as rosas recebessem um visitante chamado Orvalho.
Eu te amaria até mesmo se os bebes nascessem sem dentes e alguns sem cabelo nenhum.

Leometáfora

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A estrutura da minha poesia

Eu preciso consumir técnicas e normas para ser entendido. Ser prolixo em meus pensamentos. Erudito em minhas lembranças. Fúnebres ou não, elas precisam ser resumidas na solidão única de uma frase ou as cores vivas de minhas palavras perderão o valor ante ao mundo. Porque aos conservadores, se não cubro o pontilhado que impuseram, as palavras figurarão como abstratas demais para serem arte. Nem comecei meu primeiro esboço, já me condenam a repetição. Pobre de mim que tenho uma péssima memória. Um desmemoriado pode ser um bom escritor? Onde se usa mesmo o gerúndio? Sei lá! A tensão de algumas palavras fogem ao rigor padrão. Desnudam-se elásticas e vivas. Tomando novas proporções, se molduram levemente a necessidade do quadro. Afinal transparecer rigidez não te dá a segurança de ser eficaz ou de ser inquebrável. Cambaleio tonto. Convido as idéias que se amontoaram timidamente ao redor. Terão que me perdoar da minha incapacidade para seguir regras. Elas precisam saber que as exclui porque não sei contar minha história com marionetes de uma língua. Minha inspiração é livre e tem voz própria. Não faço ventriloquismo com a poesia.

Leometáfora

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Desculpa então!

Desculpa então. O sonho. A ilusão. Desculpa então. O desejo. O carinho excessivo. Os frases tão melosas. As ambigüidades. Os incompassos da vida. Desculpa então o meu recolhimento do mundo, só para te adorar. Os lugares que não irei, só pra ficar te esperando. Os livros que não lerei, pois estarei te escrevendo. Desculpa, eu ordeno ou imploro? Porque gostar de alguém que não gosta da gente tem que
ser tão estupidamente doentio?

Leometáfora

O Branco Ratinho

O amor é como um ratinho branco escondido no telhado.
Bonitinho, inocente. Mas que vai lentamente fazendo buracos dentro da gente. Deixando espaços vazios.
Lembranças incompletas. Saudades indetermináveis.
Vai deixando uma sede medonha do desconhecido.
E aí. No dia fatídico de uma tempestade, porque as tempestades sempre vêm mais cedo ou mais tarde,
estamos sob a chuva. Mortos de frio e sem proteção.
E o ratinho esta ali sorridente, inocente, bonitinho. Pronto para o novo telhado que ousarmos construir.

Leometáfora

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não me ames

Não me ames. Por maior que pareça ou de fato seja o meu amor por você, não me ames. Não resguardes seu tempo a pensar em mim. Não fantasie meus beijos sedentos e inebriados. Não desejes meu calor, nem meu cheiro em teus lençóis. Por mais que pareça óbvio e certo estar ao meu lado, resista. Não é que eu não queira, é que não mereço. Não mereço tua luz me inundando de esperanças. Não mereço a alegria de tuas mãos em minha pele. Estou sujo. Sujo das verdades que descobri. Incapaz de caminhar ao teu lado por saber que a estrada é um emaranhado de incertezas que atraem os fracos a se desviarem, e sei antes de tudo o quanto sou fraco. Ao findar dessa carta, talvez ao menos eu tente implorar-te que me deixe ficar. Porém não agora, enquanto estiveres chorando. Vou querer te provar com algumas de minhas fórmulas preferidas que eu sou a sua melhor escolha. Mas não se iluda, estou mentindo. Quando chega a noite, eu nem mesmo sei pra onde ir, fico olhando as estrelas e esperando um milagre que sarcasticamente sei que não virá. Porque não sou tolo minha doce menina. Porque por mais que eu tenha tentado sê-lo, não sou. As horas são cruéis quando nós temos algumas das respostas mais difíceis em nossa mente.Hoje já não sou o rapaz que te colocaria no colo e ficaria extasiado por tanta beleza. Nem perderia o controle só porque você tem um dos olhares mais lindos que já vi. Tenho a neutralidade de um lago. Sem tormentas. Sem arrebentações. Me entenda querida, não há frieza em mim. É que estou livre. Livre das convenções que nos foram impostas pela vida. Livre de ter que parecer com algo ou alguém que não sou. Quebrei as máscaras que usamos para nos proteger. Não há proteção em mim. Não ha muro de arrimo, barreiras ou trincheiras. Tudo em mim é uma exposição fatal. E quando naquela tarde eu disse que era você, de fato era. E quando você disse sorridente que afinal podíamos ser bons amigos apesar do imenso amor que te dedicava, eu entendi. Por isso não vou cantar minhas canções de amor preferidas. Minhas cartas melosas com aquelas poesias baratas que colecionei, vou rasgá-las. É a leveza da dor que me carrega livre.
Um homem livre que não dorme a noite, pois agora odeia até mesmo a menor hipótese de um sonho romântico.

Leometáfora

Transformações estúpidas

Sobre a carga do mundo descansa um coração sonhador. Poesia em que as palavras já foram rainhas hoje sozinhas não encantam mais ninguém. Porque meu coração fora outrora uma torre destemida, hoje destruída soldados invadem meu coração. Quem sabe é a minha natureza que me engane e não você. Quem sabe meu amor é que esteja ultrapassado? Repouse na história antiga. Mito. Relíquia.
E não o seu que se perdeu em transformações estúpidas.

Leometáfora

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Abismo


Então é essa a cor do abismo? Este tom enegrecido de bordas cinzentas? E esse deve ser o som. Esse silêncio roubado do cavalheiro obscuro da morte. De inúmeras maneiras o abismo me perseguiu. Estava lá quando minha esperança de amar se perdeu. Fora trazido com vento dessas palavras torpes que dizemos uns aos outros quando nos enchemos de orgulho. Depois veio com o fracasso de algum sonho. Contornei-o como pude. Sai-me bem então. Mas fora enganado por ele. Não era tão seguro andar a esmo ao seu redor. Hoje sei que não vou cair. E o preço de tudo isso foi a minha sequidão
e esse olhar embaçado e sem vida.

Leometáfora

Todo escritor

Todo escritor deve descrever o seu quarto. As quatro paredes onde se reflete. Se tiver livros na estante, deve enumerá-los. Talvez um perfume de fragrância emadeirada flutue absorto entre a poeira e a escuridão. Ha apenas uma luz que o leva a pensar sempre em unidade. E ele a mantém acesa só o tempo necessário
para não sorrir de sua solidão.

Leometáfora

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Para Ju Gadelha



Eu queria que desaprendesses. Que faltasses na escola. Que não fosse carnaval. Que as tuas sandálias rompessem. Que teus confetes fossem todos de uma cor. Que a tua lancheira trouxesse vinho de manhã. Que esse teu amor fosse um segundo. Um lampejo do delírio no avexo, e eu trouxesse o verdadeiro, o imorredouro. Então queria que teu nome fosse amora. Que eu deitasse ao teu lado sem sentir o tempo. Queria que tu me beijasses e me roubasses alguma saudade. Que eu de longe te cheirasse. Que tua voz fosse uma espécie de radar biônico para que eu não pudesse mais duvidar. Que eu te esperasse na terça, e nos dias da semana que sobrassem. Que eu fosse um poeta, mesmo que caduco, só para te ninar. Eu queria tanta coisa. Tanta coisa ao seu lado. Esses meus últimos anos. Esses meus pensamentos. Eu queria que você acordasse tarde. Que jogasse as rosas no chão e teus pés manchassem com o vermelho o azulejo dos dias. Eu queria que tomasses essa minha revolta por não ter te conhecido antes, por amor. Porque essas tuas mãos trêmulas. Esses teus olhos marejando por essa tua boca cheia de saliva, é o que acontece.
Toda vez que se devora o humano que se esconde dentro de nós.


Leometáfora

...

Estou velho e cego desses caminhos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Encantados

Somos assim encantados. De luzes e perfumes tênues. Trazemos sempre menos peso a cada adia porque a felicidade nos espera. Ou pelo menos esperemos que seja assim. Temos a coragem dos que nunca desistem. Porque afinal que alternativa teremos com a descrença? É o amanha que guarda a nossa vitória. É no vindouro que nos reconstruiremos. Não damos ouvidos aos nossos defeitos. Nossas cicatrizes não nos importam mais. Estamos em acordo com o sol. Fluiremos a doçura de írmos além do destino.

Leometáfora